Título: Escândalo sexual abala ministro francês
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2009, Internacional, p. A14

Ao defender Polanski, Frédéric Mitterrand expõe passado polêmico

Uma polêmica envolvendo a suposta apologia ao turismo sexual abalou a estabilidade do ministro da Cultura da França, Frédéric Mitterrand, e pode derrubá-lo a qualquer momento. Autor de La Mauvaise Vie ("A vida ruim", em tradução livre), livro publicado há três anos, o sobrinho do ex-presidente socialista François Mitterrand vem sendo acusado de praticar o "turismo sexual" e de fazer a apologia da pedofilia.

As acusações foram feitas por Marine Le Pen, herdeira política do partido de extrema-direita Frente Nacional. A controvérsia teve início no final da semana, depois que Mitterrand defendeu em público a libertação do cineasta Roman Polanski, preso na Suíça por ter mantido "relações sexuais impróprias" com uma menina de 13 anos, em 1977. Na ocasião, o ministro criticou os Estados Unidos - cuja Justiça é responsável pelo pedido de prisão do diretor -, afirmando que os EUA têm um lado que todos amam, "mas um lado assustador".

A reação não veio dos Estados Unidos, mas dos conservadores da França. Nova líder da Frente Nacional, o partido ultraconservador de Jean-Marie Le Pen, Marine acusou o ministro de ter praticado o turismo sexual, ato que teria revelado em sua obra.

"Nesse livro, o ministro descreve a forma como faz turismo sexual e o prazer que sente em pagar meninos tailandeses, sabendo de suas condições de vida, tendo conhecimento da perversidade desse sistema", disparou Marine, em entrevista à rede pública France 2. "Este homem é ministro da Cultura da França."

As acusações se baseiam no conteúdo do livro La Mauvaise Vie, um jogo de palavras que podem tanto ser compreendidas como "a vida ruim" ou como "a vida desregrada".

Nele, Mitterrand descreve suas desventuras homossexuais, inclusive envolvendo prostituição em países como a Tailândia. O ministro explora seus dramas de consciência, originários da exploração sexual.

"Evidentemente, eu li tudo o que se pôde escrever sobre o comércio de jovens", confessa no texto. "Eu sei o que há de verdadeiro nas investigações (da imprensa): a inconsciência ou a rudeza da maioria das famílias, a miséria ambiente, a prostituição generalizada na qual caminham os ladrões, os malfeitores e os corrompidos, as montanhas de dólares", descreve.

DEFESA

Pressionado por diversos políticos a renunciar, o ministro foi à TV ontem tentar se explicar. Primeiro, negou que o livro seja "totalmente autobiográfico", classificando-o como "uma narrativa". Depois, negou defender qualquer tipo de crime sexual.

"Não é em momento algum a apologia do turismo sexual", sustentou, reavaliando seus atos: "Um erro, possivelmente; um crime, de maneira alguma."

Apesar do apoio do presidente Nicolas Sarkozy, analistas políticos entendem que o futuro de Mitterrand no governo ainda não está decidido.