Título: Previ e Funcef vão disputar Belo Monte
Autor: Gomez, Natália ; Ciarelli, Mônica
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2009, Economia, p. B9

Fundos de pensão devem participar de grupos rivais no leilão da usina Em lados opostos, dois dos principais fundos de pensão do País, a Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) e a Funcef (Caixa Econômica Federal), vão participar da disputa pela Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. Ontem, o presidente da Previ, Sérgio Rosa, revelou que vem articulando a formação de um consórcio que deverá reunir a mineradora Vale, a CPFL Energia e o Grupo Neoenergia, três empresas nas quais o fundo participa do bloco de controle.

"As empresas estão interessadas e têm conversado entre si", afirmou. Já a Funcef deve entrar na disputa ao lado da Construtora Odebrecht. Segundo o presidente do fundo, Guilherme Lacerda, a parceria deve ser assinada em breve. "Queremos entrar no empreendimento desde o início", disse.

Segundo ele, o negócio despertou o interesse da fundação por causa das boas taxas de retorno. "A previsão é que o Brasil crescerá sem grandes solavancos, o que vai estimular a demanda por energia."

Investimentos no setor de infraestrutura são bastante comuns entre os fundos de previdência em razão do caráter do negócio, com retorno de longo prazo. Isso facilita o planejamento atuarial dessas entidades, que buscam garantir o pagamento de benefícios futuros aos seus participantes.

O presidente da Previ não descartou a entrada de outros parceiros no consórcio, mas negou a participação do grupo franco-belga Suez Energy, como chegou a ser noticiado. "Neste momento, não tem mais gente, mas pode ser que mais à frente entrem outros", disse.

Para o diretor de Participações da Previ, Joilson Ferreira, a associação de companhias controladas pela fundação em um só consórcio eliminaria possíveis conflitos de interesse no processo de licitação de Belo Monte. "Para a Previ, é bem mais confortável elas estarem juntas", disse.

A razão, explica ele, é que no dia do leilão os consórcios ficam isolados em salas tomando decisões sobre os lances a serem feitos. "Seria complicado se cada uma ficasse num consórcio. Íamos ter que sair da sala ou escolher uma sala para ficar", disse.

O governo ainda não definiu o investimento do setor privado na Hidrelétrica de Belo Monte, que contará com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que pode chegar a 80% dos itens financiáveis do projeto.

Ferreira acredita que o governo, representado pelo Grupo Eletrobrás, deve ficar com 49% do projeto e o restante, com o consórcio vencedor. "Não está fechado, mas para a Previ seria melhor elas irem juntas", afirmou.

OUTROS INTERESSES

Além do interesse em Belo Monte, os dois fundos de pensão olham com atenção para o setor imobiliário. Durante o lançamento, ontem, de um Manual de Governança Corporativa para o setor imobiliário, a Previ informou que pretende dobrar seus investimentos em imóveis nos próximos cincos anos.

A expectativa é que a conquista, pelo Brasil, das sedes da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 deve ajudar nesse desafio.

Hoje, o fundo de pensão tem R$ 3,4 bilhões aplicados nesse segmento, que representa cerca de 3% do patrimônio total da Previ (R$ 130 bilhões). Pelas novas regras para o setor anunciadas no mês passado, as fundações podem alocar até 8% de seus ativos em imóveis.

Segundo ele, a intenção é ampliar investimentos em prédios comerciais, shopping centers e galpões industriais. Já hotéis estão fora do foco do fundo, que recentemente vendeu o Hotel Meridien no Rio de Janeiro, mas, ainda tem em sua carteira o complexo turístico Costa do Sauipe, na Bahia.

Atualmente, contou o executivo, existe uma demanda por imóveis comerciais no Brasil. A procura deve crescer ainda mais com os dois eventos e também com expectativa em torno da exploração de petróleo na camada pré-sal.

Já Lacerda, da Funcef, revela que o fundo tem R$ 400 milhões disponíveis para investimentos em fundos imobiliários. Atualmente, a fundação está investindo em edifícios comerciais, shoppings e galpões para logística.