Título: Missão da OEA tenta forçar diálogo
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/10/2009, Internacional, p. A10

Diplomacia internacional tem como objetivo pôr fim a impasse e concluir, em duas semanas, fórmula para acordo

Mesmo com a solução para a crise hondurenha estagnada, a Organização dos Estados Americanos (OEA) decidiu enviar amanhã uma missão liderada pelo secretário-geral, José Miguel Insulza, para abrir as negociações entre o presidente deposto hondurenho, Manuel Zelaya, o governo de facto de Roberto Micheletti e a Frente Nacional de Resistência (FNR).

A expectativa da OEA e dos Estados Unidos é que em até 15 dias seja alcançada uma fórmula de consenso. Ao Estado, Zelaya admitiu que, até ontem, não havia "absolutamente nada" acordado.

"Não tenho nenhuma confiança no regime", afirmou, ao referir-se ao presidente de facto, seu principal interlocutor na mesa de negociações.

A missão da OEA será integrada pelos chanceleres da Costa Rica, Equador, El Salvador, México e Panamá e pelos vice-chanceleres do Canadá, Jamaica e Guatemala. A Espanha e a Argentina enviarão diplomatas. O Brasil será representado por seu embaixador na OEA, Ruy Casaes. Haverá ainda um representante do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon.

Os candidatos à sucessão presidencial, ansiosos por garantir a legitimidade da votação marcada para 29 de novembro, embaralham as versões que estão sendo discutidas.

BOATO SOBRE RECUO

Ontem, Porfírio Pepe Lobo, do Partido Nacional, e o democrata-cristão Felicito Ávila declararam à imprensa que Zelaya havia garantido a ambos que não pretendia mais retornar à presidência.

O líder deposto também teria dito que só mantinha esse objetivo por pressões da comunidade internacional. "Eu nunca disse isso. É uma mentira. Isso vai tirar pelo menos 10% dos votos de Porfírio", rebateu Zelaya em declaração ao Estado.

Destituído pelo golpe de Estado de 28 de junho e abrigado há 16 dias na embaixada brasileira em Tegucigalpa, Zelaya propôs ontem ao governo de facto a assinatura do acordo original de San José, "de maneira imediata", como forma de superar a crise.

A proposta foi apresentada a ambos os lados envolvidos na crise pelo presidente costa-riquenho, Oscar Arias, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços em mediar conflitos na América Central nos anos 80.

A missão da OEA serviria como testemunha do ato. Com isso, Zelaya voltaria a seu cargo. Mas, os detalhes mais sensíveis previstos no texto do acordo - em especial, a amplitude da anistia para os dois lados e a realização da Assembleia Constituinte - seriam negociados posteriormente.

A cerimônia de assinatura do acordo, na proposta de Zelaya, teria de ocorrer na embaixada brasileira, pois esse terreno neutro proporcionaria segurança e garantiria a transparência e "o respeito à integridade física, aos direitos constitucionais e à vida do presidente".

SINAIS DE DISTENSÃO

29 de setembro - Empresários propõem acordo que inclui a restituição de Zelaya

30 de setembro - Tribunal Superior Eleitoral pede a Micheletti que levante o estado de sítio

Quinta-feira - Zelaya declara-se disposto a ser julgado

Sexta-feira - Governo de facto e Zelaya anunciam estar dispostos a negociar uma solução para crise

Domingo - Secretário da OEA confirma missão da entidade a Honduras para intermediar diálogo

Ontem - Micheletti levanta estado de sítio e, pela primeira vez, admite a volta de Zelaya à presidência, mas só após as eleições de 29 de novembro