Título: Censura é medida fascista, diz escritor
Autor: Assunção, Moacir
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/10/2009, Nacional, p. A7

Especialista no tema vê mordaça ao "Estado" como volta ao passado

O escritor e jornalista Fernando Jorge, autor do livro Cale a Boca, Jornalista, que relata a trajetória dos desmandos e agressões contra jornalistas e jornais na história do Brasil, não consegue conter a indignação ao comentar a censura imposta ao Estado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF).

"É uma medida fascista ou nazista, que remete às ditaduras de Benito Mussolini e de Adolf Hitler, inimigas ferozes da democracia e da liberdade", alerta. "Basta ver que uma das medidas de Hitler para controlar a imprensa era censurá-la, sem oferecer chance à defesa."

Desde 31 de julho, o Estado está proibido de publicar qualquer informação referente à Operação Boi Barrica, da Polícia Federal, que investigou negócios sob responsabilidade do empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

A atual censura, na avaliação de Fernando Jorge, remete a outros dois momentos, que ele descreve em seu livro, da imprensa sob o jugo de ditaduras. "A primeira foi em 1937, quando se instalou o Estado Novo de Getúlio Vargas, em que o Estado foi, injustamente, acusado de conspirar contra o regime, por força de seus ideais democráticos."

A segunda foi durante a ditadura militar, quando o então ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, divulgou uma cartilha "de moldes fascistas" que pregava a censura à imprensa.

"O então diretor do Jornal da Tarde, Ruy Mesquita, hoje diretor de Opinião do Estado, escreveu uma carta que é um verdadeiro primor de coragem, lamentando que o Brasil tivesse se rebaixado à condição de uma republiqueta de bananas por causa da censura", relembrou.

A Academia Paulista de Letras (APL), no entanto, aceitou o ministro como um dos seus acadêmicos no mesmo ano em que ele determinou as restrições à imprensa.

SARNEY IMORTAL

Se demonstra indignação ao falar da mordaça, que considera uma volta ao passado, o escritor é irônico ao se referir ao presidente do Senado, imortal da Academia Brasileira de Letras. "Sarney é um assassino da poesia. Compara estrelas a vacas, que pastam na imensidão do infinito, o que nos faz acreditar que os astronautas deveriam levar capim ao espaço", diz.