Título: PMDB anunciará noivado com PT na próxima semana
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/10/2009, Nacional, p. A6

Além da vaga de vice, partido quer mais poder em eventual gestão petista

BRASÍLIA

A cúpula do PMDB anunciará na próxima semana que vai apoiar a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), à Presidência em 2010. Para fechar a aliança, o partido exigiu não apenas a vaga de vice na chapa - já oferecida há tempos pelo PT - como mais poder em caso de uma nova gestão petista à frente do Planalto. Até agora, o nome mais cotado para vice de Dilma é o do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP).

O "noivado" entre o PT e o PMDB será formalizado em reunião de dirigentes dos dois partidos com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma, no dia 21 ou 22. Até a noite de ontem, a data ainda dependia da agenda presidencial. O casamento de papel passado, porém, só ocorrerá em junho de 2010, após as convenções.

"Nós vamos firmar um pré-compromisso com o PT, deixando claro que estaremos juntos em 2010 e a vaga de vice será do PMDB", afirmou o deputado Henrique Eduardo Alves (RN), líder da legenda na Câmara.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), disse que os problemas regionais entre os dois partidos para a formação de palanques não impedirão a coligação nacional. "Há Estados onde o PT e PMDB não se bicam, mas isso não atrapalha a aliança", argumentou. "Já dissemos várias vezes ao PMDB que estamos dispostos a estabelecer uma parceria estratégica para governar o Brasil."

Diplomático, o petista fez questão de elogiar o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), que também está de olho na cadeira de Lula. "Ciro é nosso amigo e não vamos brigar. Se ele sair candidato, a disputa será feita nos marcos da cordialidade."

NEGOCIAÇÕES

Nos últimos dias, o Planalto intensificou as negociações para fechar as alianças com os partidos que formam a base aliada. A ideia é criar um fato consumado para neutralizar o assédio do governador José Serra, pré-candidato do PSDB à Presidência, sobre os integrantes da coalizão federal, como o PMDB, que hoje ocupa seis ministérios na Esplanada e dirige uma penca de estatais importantes.

"Existe um movimento dos serristas para tentar impedir nossa aliança com o PMDB, mas quero dizer que estamos muito bem", reforçou Berzoini.

Orientada por Lula, Dilma tem se reunido com as bancadas, sempre sorridente e simpática. Nas palavras de deputados que participaram desses encontros, ela faz questão de mostrar que não é apenas "técnica". "A ministra pode aposentar aquele o bambolê que demos a ela, pois já está provado que tem muito jogo de cintura política", comentou o líder do PMDB.

Nem tudo, porém, são flores no caminho do altar. Desde que foi realizado o jantar entre parlamentares e dirigentes do PMDB, no dia 6, não param de chegar reclamações à cúpula do partido sobre o casamento com o PT. As divergências são muitas nas campanhas para os governos estaduais. Os dois partidos vivem às turras em São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia, Pará, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. Há ainda dificuldades de relacionamento em Minas, no Rio e Rio Grande do Norte.

Além disso, senadores peemedebistas como Jarbas Vasconcelos (PE), Pedro Simon (RS) e Geraldo Mesquita Junior (AC) condenaram publicamente a dobradinha. "Precisamos ter bom senso para conduzir o processo com baixo nível de estresse", diz Berzoini.