Título: Novo fracasso jogaria hondurenhos no limbo
Autor: Simon, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2009, Internacional, p. A12

Eleição de novembro pode ser boicotada por zelaystas e desconsiderada internacionalmente

Um eventual fracasso do diálogo de Guaymuras poderá mergulhar Honduras num limbo político e legal. Internamente, zelaystas já planejam boicotar a eleição presidencial de 29 de novembro e não reconhecer seu resultado, caso o governo de facto de Roberto Micheletti não concorde com a restituição do presidente deposto Manuel Zelaya. Externamente, países e organizações internacionais terão de se confrontar com o dilema de reconhecer ou não um processo eleitoral conduzido por um regime tido como ilegítimo.

Carlos Eduardo Reyna, assessor de Zelaya, garantiu ao Estado que, diante da eventual falta de consenso sobre o tema da restituição até hoje à noite, um plano de boicote às eleições de novembro seria "imediatamente" posto em prática. Grupos aliados ao presidente deposto já teriam "uma estratégia clara" para minar a votação, disse Reyna, sem revelar quais seriam as medidas adotadas.

Segundo um deputado da base aliada do presidente deposto, comunidades pró-Zelaya estariam prontas para impedir a campanha eleitoral e até mesmo a instalação de urnas. "Temos apoio de várias comunidades e elas serão acionadas", disse. No entanto, com as manifestações da Frente Nacional de Resistência - facção mais radical de apoio a Zelaya - perdendo fôlego, surgem dúvidas sobre a real capacidade de mobilização do campo zelaysta.

Responsável por garantir as eleições segundo a Constituição hondurenha, o Exército diz estar preparando medidas adicionais contra um eventual boicote. "Nossos serviços nacionais de informação estão em ação", disse um membro do alto comando das Forças Armadas que pediu anonimato. "Temos uns 600 veículos pesados para garantir a entrega dessas urnas e o bom funcionamento do processo eleitoral."

OSTRACISMO

No campo da diplomacia, um eventual naufrágio do diálogo prolongaria indefinidamente o isolamento hondurenho. Dias depois do golpe, Honduras foi suspensa da Organização dos Estados Americanos (OEA). Em seguida, a Assembleia-Geral da ONU aprovou uma resolução não vinculante contra o governo de facto e seu secretário-geral, Ban Ki-moon, declarou que não daria apoio a uma eleição sem a restituição de Zelaya.

Mas alguns países já estariam questionando o isolamento de um novo governo hondurenho, instaurado após as eleições de 29 de novembro. Michael Shifter, professor de estudos latino-americanos na Universidade Georgetown, acredita que os EUA poderão adotar uma posição pragmática. "É difícil imaginar que, se ocorrerem eleições limpas, os EUA insistirão em tratar Honduras como um país pária", disse.

"Esse isolamento nos levou a uma catástrofe econômica sem precedentes", disse o ex-ministro do Comércio Jaime Turcios. "Torramos quase US$ 1 bilhão das reservas do país com essa ruptura."