Título: Consórcio mudou logística do Enem
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/10/2009, Vida&, p. A18

Segundo o ministro da Educação, não havia previsão de uso da sala de onde as provas foram retiradas

A sala dentro da gráfica Plural de onde foram roubadas as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em São Paulo, não estava prevista no plano de impressão e distribuição apresentado ao Ministério da Educação pelo consórcio vencedor. Sua criação também não teria sido informada ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pelo acompanhamento do processo. A informação foi dada ontem pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, a parlamentares em duas audiências, nas comissões de Educação da Câmara e do Senado.

Segundo informações obtidas pelo Estado, a razão para a criação dessa sala teria sido a necessidade de redistribuir provas em São Paulo, depois que a confirmação de inscrições mostrou que estudantes teriam de fazer o exame a mais de 40 km de casa. As mudanças feitas nos locais de prova alteraram o número de kits que deveria ser enviado para cada escola.

Formado pelas empresas Consultec, Cetro e FunRio, o consórcio optou por abrir uma sala dentro da gráfica Plural, em São Paulo, para remontar os pacotes de exames que seriam distribuídos na cidade em vez de enviar todo o material para o Rio, como era previsto.

A FunRio, responsável pela distribuição das provas, teria concluído que não haveria tempo para enviar o material para o Rio e depois para São Paulo. Teria então pedido ao Cetro que montasse os pacotes em São Paulo. A empresa teria solicitado uma sala à gráfica e contratado funcionários de última hora, sem checagem de segurança. Procurado pela reportagem, o consórcio não se manifestou. Já a gráfica afirma que os responsáveis pelo vazamento eram contratados do consórcio.

Segundo o ministro, auditoria do Inep concluiu que foi dessa sala, não prevista no planejamento inicial, que o exame foi roubado. Alertado pelo Estado sobre o vazamento, o MEC cancelou a realização da prova.

Funcionários do Inep responsáveis pelo acompanhamento dos procedimentos de segurança teriam dito aos auditores que não foram avisados sobre o pedido da sala. "Não adianta informar depois. Se o Inep fosse avisado antes, poderia ter verificado os procedimentos de segurança. Depois já é tarde para evitar o delito", afirmou Haddad.

Em novembro, o MEC começará uma campanha publicitária para esclarecer sobre as novas datas do Enem e as medidas de segurança adotadas. Segundo Haddad, ações simples - como assinar o exame no local correto e verificar se na prova recebida constam nome e CPF corretos (e não de um homônimo) - podem facilitar a correção e diminuir o tempo para que saiam os resultados.

A campanha, que deverá ser estrelada pelo ator Wagner Moura, está em processo de criação, será veiculada em rádio e TV e custará R$ 200 mil aos cofres do ministério. O Enem será realizado nos dias 5 e 6 de dezembro.

INQUÉRITO

Para o chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários da Polícia Federal, Marcelo Sebadin Baltazar, o inquérito está bem estruturado e há provas contundentes da participação dos cinco indiciados no vazamento - Felipe Pradella, Marcelo Sena, Filipe Ribeiro, Gregory Camilo e Luciano Rodrigues. Segundo Baltazar, o inquérito seguirá nos próximos dias para o Ministério Público. COLABOROU LEANDRO CALIXTO

ENTENDA O CASO

Fraude: No dia 1.º de outubro, o Estado alertou o MEC sobre o vazamento da prova do Enem. O exame foi cancelado e remarcado para os dias 5 e 6 de dezembro

Investigação: Após a denúncia, a Polícia Federal apontou cinco suspeitos. O MEC cancelou o contrato com o consórcio Connasel

Vestibulares: As novas datas do Enem coincidiram com as provas de diversas universidades. Algumas instituições remarcaram seus exames. O uso do Enem na nota do vestibular foi descartado por USP, Unicamp e PUC-SP