Título: Movimentação pró-Aloysio aumenta divisão no partido
Autor: Duailibi, Julia ; Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2009, Nacional, p. A10

Principais lideranças do DEM no Estado, como Kassab, trabalham em favor do titular da Casa Civil de Serra

Nos últimos meses, as movimentações de adeptos da candidatura do ex-governador Geraldo Alckmin e de simpatizantes do chefe da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, criaram tensão no PSDB. O motivo do desconforto são as articulações promovidas por tucanos próximos a Aloysio, no interior do Estado, com a ajuda do DEM. As principais lideranças do partido aliado, como o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, trabalham no bastidor para emplacar o nome do secretário da Casa Civil de Serra.

Discretamente, Aloysio costura uma rede de apoios no Estado. Além do DEM, o chefe da Casa Civil tem garantido o apoio do PMDB, partido ao qual já pertenceu, do PPS e de legendas menores. O ex-governador Orestes Quércia, presidente do PMDB paulista, não impõe restrições a Alckmin, embora também se dê bem com Aloysio. Mas pesam questões pessoais. Em 2010, Quércia fará coligação com a chapa tucana, ocupando uma das duas vagas para o Senado. Prefere não ter na outra vaga Alckmin. Em conversas reservadas, o comentário é que o Senado será "ofertado" ao secretário de Desenvolvimento de Serra, caso ele seja vetado na disputa estadual.

Com a caneta na mão para liberar verbas, Aloysio recebe elogios até de prefeitos da oposição. Nas palavras de um aliado, trata-se de uma "campanha devastadora". Seus índices nas pesquisas, porém, não ultrapassam os 5%. Nos fins de semana, ele viaja pelo interior. Em agosto, ganhou títulos de cidadão benemérito de 12 cidades que compõem a Associação dos Municípios do Vale do Paranapanema.

No dia 26 de setembro, 37 prefeitos, 175 vereadores e integrantes de 64 municípios receberam Aloysio em Taquaritinga. O prefeito José Paulo Delgado Júnior, do DEM, disse que os políticos da região estão envolvidos na candidatura do tucano. "Ele tem atendido muito os prefeitos. Na classe política, 95% apoiam Aloysio. Alckmin era um grande governador, mas está mais descentralizado, e Aloysio tem poder para decidir as coisas." A ideia, disse Delgado, é fazer vários encontros entre prefeitos do DEM e Aloysio, até o fim do ano, para fortalecer sua pré-candidatura.

O deputado Walter Ihoshi (DEM-SP), da região de Marília, afirmou que percebe entre os prefeitos muito entusiasmo com Aloysio. "É um grande nome", insistiu. "Se dependesse dos prefeitos, já estaria eleito."

Os discípulos de Aloysio garantem que, caso a disputa chegue à convenção, ele leva a maioria dos votos. Alckmistas rebatem: juram que o ex-governador tem 90% de apoio dos delegados no Estado.

Aloysio conta com a simpatia de Serra, mas amigos do governador garantem que o pragmatismo falará mais alto na hora da escolha do concorrente. "Para impedir a candidatura do Alckmin, Serra teria de fazer um banho de sangue no PSDB de São Paulo", diz um ministro do governo Lula. Se Aloysio não entrar no páreo, deverá ser um dos coordenadores da campanha de Serra. Ele não tem interesse em disputar novamente a Câmara.

O secretário-geral do PSDB estadual, César Gontijo, minimiza o confronto. "Não temos o direito de perder tempo com disputas paroquiais. A energia precisa ser focada na indicação de Serra para a Presidência. São Paulo tem de passar para o Brasil um clima de harmonia".

Pelo menos está acertado que a escolha do candidato a governador sairá no começo do ano que vem. Primeiro, será batido o martelo sobre a cadeira presidencial. O argumento é que Serra não pode indicar o sucessor agora, pois encurtaria seu governo e sinalizaria para o mineiro Aécio Neves, o outro postulante do PSDB ao Planalto, a definição de seu destino.

Em tese, o governador paulista pode disputar a reeleição. Mas, por enquanto, trata-se apenas de uma tese.