Título: Empresas brasileiras não arriscam
Autor: Tereza, Irany ; Friedlander, David
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2009, Economia, p. B1

Dono do Grupo EBX volta trabalhar na produção de ouro e prepara grande investida no setor naval por causa do petróleo

Ao estilo Eike Batista, o adágio "Do pó vieste, ao pó voltarás" tomaria certamente outra forma. Talvez "do ouro vieste...". Foi intermediando a venda de ouro e diamantes de garimpeiros da selva amazônica que ele deu início, na década de 80, ao que hoje é o Grupo EBX. Ao ouro ele está voltando agora, com o projeto da sexta empresa do grupo, já batizada de AUX. Mas é no petróleo que ele faz a aposta mais alta: além de explorar e produzir, também quer fabricar equipamentos. "As empresas brasileiras não têm a cultura do risco. É triste. (...) Eu me arrisco", diz

E o ouro?

Estamos voltando à origem. Será uma empresa de U$ 2 bilhões a US$ 3 bilhões (a nova subsidiária será batizada de AUX). Já temos minas na Colômbia e alguma coisa no Brasil. Mas o Brasil não é rico em ouro. Temos o ouro negro, que é melhor (risos).

Mas nessa do "ouro negro", o grupo entra somente por meio de licitação?

Não. Nosso primeiro furo é em uma área que pertencia à Shell, que fez um furo seco e vendeu para a Maersk. A Maersk fez um furo seco, a gente pegou 65% do bloco e achou petróleo! Aqui em Santos, em águas rasas, fora da picanha azul (a faixa do pré-sal).

Vocês estão pensando em comprar mais participação em blocos de outras empresas?

Aí eu volto a dizer o seguinte: para mim, gestão é fundamental. Então, nossa gestão é nossa gestão. A gente entra sendo majoritário.

E majoritário sem ser operador?

Não gostamos. Neste caso (do bloco com a Maersk, em Santos), como o bloco era muito interessante, a gente aceitou não ser operador, apesar de deter 65%. Mas a cultura do grupo é ser controlador, operar, dizer como tem de ser feito. Essa é a nossa gestão.

Então, como vai entrar na Vale de outro jeito, se o sr. acaba de dizer que a sua gestão é sua gestão?

(silêncio)

A ideia é comprar um pouco e depois mais um pouco?

Who knows (Quem sabe?)

Em petróleo a OGX só vai entrar em consórcios como majoritária?

Eu não gosto muito de parceria com gigantes que, no fundo, acham... O cara faz chamada de capital e diz: vou investir do jeito que eu quero, com minha eficiência. Toda vez que fiz isso, me dei mal.

Mas no setor petróleo é assim que acontece.

Nos nossos blocos não, exceto nesse (com a Maersk). E vou te dizer: a gestão na parte operacional vai cair para a gente, porque vamos fabricar equipamentos. E onde eles vão comprar equipamentos? Curiosamente, vão esbarrar no nosso grupo de novo, porque todos vão precisar de 75% de conteúdo nacional. E aí quem vai operar?

O seu grupo está negociando com a Petrobrás, também?

A Petrobrás hoje já percebeu que, por sermos um grupo brasileiro, e somos mesmo - acho que somos até mais brasileiros, em termos de participação (que a Petrobrás). Sessenta e três por cento somos nós, a holding EBX. E dos 37% que tem no mercado, eu diria que 40% são nacionais. Então, 75% da OGX é de capital nacional. Ou seja, temos menos participação estrangeira do que a Petrobrás!

Mas vocês estão conversando com eles?

Não, porque vamos acabar nos cruzando na área de equipamentos. Nós estamos nos mobilizando para criar uma megaindústria naval no Brasil, para ninguém botar defeito. Nesse empreendimento, 20% ou 30% serão de estrangeiros, porque eu não tenho know-how para fazer isso com a eficiência deles. Vou aprender com os coreanos ou cingapurenses, que são os melhores. Na parte de operação das sondas, pode ser Odebrecht, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, esse pessoal que está entrando nisso.

Essas empreiteiras poderiam entrar também na parte de exploração de petróleo e gás?

Convidamos algumas, mas as empresas brasileiras não têm a cultura do risco. É triste. Se você diz para um sujeito que ele vai fazer um furo que custará US$ 50 milhões e talvez ele tenha de fazer outro, ele se pela de medo. Eu me arrisco, invisto em pesquisa.

Vocês já fizeram duas descobertas de óleo, não?

Sim, e vamos furar mais quatro poços até o fim do ano, em Campos.

Vão entrar no pré-sal?

Se tivermos oportunidade, sim.

Como o sr. se imagina daqui a dez anos?

Fora os ativos de empresas, eu não tenho imóveis fora do Brasil. Aqui é onde eu vou gastar todo o meu dinheiro. Meu pai falava russo e foi perseguido na época da ditadura. Por isso, nos ensinou a sempre ter algum dinheiro aqui e algum lá fora. Tanto que metade dos meus irmãos acabou morando fora. Trouxe dois de fora agora, para trabalhar comigo. No ano 2002, eu tomei a decisão: este é o melhor país do mundo para se empreender. Minhas experiências na Grécia, na Rússia, na República Checa foram um desastre. Perdi US$ 500 milhões. Gastei esses recursos em ativos fantásticos, mas ou a legislação ou a máfia local tiraram esses ativos de mim. No Brasil, nas áreas em que atuo, a legislação é clara, tudo é claro. Então, meus filhos podem até fazer um curso no exterior, mas é pra cá que voltarão. Essa coisa de ter coisas fora é uma estupidez no mundo de hoje. Tomei essa decisão em 2002, vendi todos os meus ativos de ouro na época e me concentrei nas minhas X. Aliás, a história das empresas X começou em 1980. Continuou por 20 anos focada no exterior, mais 9 aqui.

Com a estratégia de atrair executivos com participação acionária.

Dividindo as riquezas com executivos, funcionários e investidores, ela se reproduz. Nós fizemos duas coisas que o mundo capitalista não faz. Primeiro, as ações para os executivos são minhas. Segundo, em janeiro e fevereiro, quando os executivos fizeram na MMX um investimento em derivativos e câmbio e se perdeu muito dinheiro, eu aportei US$ 200 milhões a custo zero. Emprestei para a MMX a custo zero. E sabe o que aconteceu com as minhas ações? Elas valiam R$ 3 e hoje valem R$ 12. O acionista vai ser sempre meu parceiro. Como eu sei criar riqueza do zero, vou respeitar esses caras que investiram comigo. Por isso, as empresas X têm uma valorização diferenciada. Eu pago os executivos, sai do meu bolso. Agora, está tudo resolvido, o dólar voltou e nós estamos voando na nuvem número 63. A OSX, por exemplo, está entrando num business que vai criar uma riqueza quase instantânea de alguns bilhões.

As ações da OGX estão valendo mais de R$ 1,5 mil por causa das descobertas, mas chegarão a um ponto de equilíbrio.

Estão a R$ 1.680. E daqui a três anos, valerão de três a cinco vezes mais. Podem dizer que é sonho, mas me deixem continuar sonhando. Inclusive, voltando aos meus desejos para daqui a dez anos, eu imagino um Brasil mais rico, totalmente diferente. Meu talento é criar projetos que geram empregos, riquezas, dividir isso com a sociedade onde eu vivo. Isso tudo me traz uma energia de volta assustadora.

* A repórter é da Agência Estado