Título: Lula barra taxação da poupança, admite Dilma
Autor: Lima, Eliana
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/10/2009, Economia, p. B7

Ministra diz que projeto de tributar a caderneta com IR só vai para o Congresso quando o presidente autorizar

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, negou ontem em Salvador - onde visitava obras financiadas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - que tenha havido recuo do governo ao não enviar o projeto que taxaria com Imposto de Renda as cadernetas de poupança com saldo acima de R$ 50 mil a partir do próximo ano.

A ministra Dilma afirmou que participa das negociações no governo e qualquer projeto só é enviado ao Congresso a partir do parecer definitivo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Como não houve sinal verde de Lula....".

Segundo a ministra, o governo tem grande consideração pela classe média. "Até porque nós do governo somos responsáveis por este País ser integrado dominantemente pela classe média", afirmou Dilma. Para a ministra, o governo não tem intenção de taxar ainda mais a classe média.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, insistiu em anunciar duas vezes este ano o projeto de taxação das cadernetas de poupança, apesar dos alertas da área política de que não era hora de mexer num tema tão caro para a população. O ministro teve de voltar atrás por decisão do presidente Lula. Qualquer proposta da equipe econômica que possa atrapalhar a candidatura de Dilma à Presidência da República deve ser barrada por Lula.

A polêmica da semana passada em torno do adiamento do pagamento da restituição do IR foi a gota d"água depois de uma série de medidas do Ministério da Fazenda consideradas desastrosas pelo Palácio do Planalto.

A notícia do atraso da restituição para reforçar o caixa do governo no dia da divulgação do balanço do Programa de Aceleração do Crescimento colocou a ministra numa verdadeira saia-justa, justamente no momento em que procurava mostrar os avanços nas obras do governo. Dilma estava ao lado de Mantega quando ele confirmou o atraso na liberação das declarações do IR.

Tanto a taxação da poupança quanto o atraso no pagamento das restituições do IR foram classificadas de "confisco" pela oposição. A proposta de criação da Contribuição Social da Saúde (CSS) para substituir a extinta CPMF também foi engavetada.

A manobra fiscal com o dinheiro do contribuinte dominou a entrevista de divulgação do balanço do PAC e desagradou ao presidente Lula que mandou a Fazenda resolver o problema.

A avaliação é de que a ministra, que ainda patina nas pesquisas e não consegue decolar a sua candidatura, está sendo prejudicada por essas decisões na área econômica que dão munição fácil para oposição.

A área econômica também está provocando forte desgaste político com o bloqueio das verbas de emendas dos parlamentares que afetam sobretudo as prefeituras, onde ficam as bases de campanha.

O episódio envolvendo Dilma Rousseff com a ex-secretária da Receita Federal, Lina Maria Vieira, foi outro que contribuiu para o desgaste da imagem da ministra. Lina acusou a Dilma de ter pedido para acelerar a investigação do Fisco nas empresas da família Sarney. A ministra negou ter feito o pedido, mas saiu chamuscada da polêmica que foi parar em CPI do Congresso.

O vazamento da informação sobre o IR é atribuído, inclusive, a ex-assessores de Lina que escolherem a ministra Dilma como alvo principal de retaliação às mudanças no Fisco feitas por Mantega.

PROBLEMA RECORRENTE

O desgaste junto à classe média tem sido um problema recorrente para candidaturas petistas. Na campanha municipal de 2004, a então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), não conseguiu se reeleger, sendo derrotada pelo tucano José Serra. Na ocasião, o comando nacional do partido reconheceu que um dos problemas de sua campanha foi justamente ter perdido a batalha pelo voto da classe média, que não se identificou com a campanha.

No mesmo ano, na campanha de Porto Alegre, o petista Raul Pont também não foi eleito, sendo superado por José Fogaça (na época no PPS, hoje no PMDB). Depois de conseguir chegar ao segundo turno, Pont alertou os dirigentes nacionais do partido dando conta que estava perdendo os votos da classe média por causa do tratamento dado pelo governo federal à crise estrutural da Varig. Nessa avaliação, como a empresa tinha grande influência no Estado, sua crise e resistência do governo em salvar a empresa refletiram diretamente no humor do eleitorado da capital gaúcha.