Título: Apesar das críticas, governo mantém financiamento a entidades de sem-terra
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2009, Nacional, p. A4
Esta não é a primeira vez que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condena certas ações do Movimento dos Sem-Terra. Em 2003, no primeiro ano de governo, ao enfrentar uma onda de invasões, organizada com o intuito de pressioná-lo a acelerar a realização da reforma agrária, ele disse que os sem-terra não estavam acima da lei. "Nós precisamos de uma reforma agrária tranquila e pacífica", afirmou em maio daquele ano, ao visitar uma feira de agricultura no Maranhão.
De maneira geral, o presidente se manifesta para criticar os chamados excessos - os atos que provocam maior indignação e reações entre representantes dos proprietários rurais, grupos políticos e outros setores da sociedade, além de repercussões na mídia. Foi assim em 2006, quando integrantes do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (dissidência do MST) invadiram o Congresso Nacional. Ele qualificou publicamente o ato como "uma cena de vandalismo, uma cena de pessoas que perderam o limite da responsabilidade no trato da coisa pública".
São críticas pontuais. No conjunto, Lula ainda considera os sem-terra, particularmente o MST, aliados históricos - e seu governo tem dado a eles um tratamento privilegiado. Nos últimos cinco anos, o governo repassou R$ 115 milhões a nove entidades ligadas ao MST. E, apesar da crítica de Lula à depredação da fazenda da Cutrale, o governo não pretende criminalizar o movimento.
Os sinais disso estão por toda parte. Quem analisar a lista com os nomes de superintendentes regionais do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) espalhados pelo País poderá constatar que a maioria deles veio de quadros do MST. Na mesma linha, quem comparar o repasse de verbas do governo federal para organizações controladas pelo movimento, nos governos de Fernando Henrique Cardoso e Lula, verá que quase quadruplicaram neste último.
Ao contrário de entidades ruralistas, que consideram o MST uma organização fora da lei, Lula trata o movimento como representante de um setor importante da sociedade, com o qual deve dialogar. Uma das primeiras grandes crises políticas de seu governo ocorreu justamente por causa dos sem-terra.
Foi em 2003, quando, em um encontro com a liderança do MST, em Brasília, ele vestiu o boné vermelho característico da militância sem-terrista. Para o então presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o fazendeiro Antonio Ernesto Salvo, ao usar o boné dos invasores de terra, Lula teria maculado para sempre sua autoridade como presidente.