Título: Lula classifica como ''vandalismo'' ação do MST em fazenda da Cutrale
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2009, Nacional, p. A4

Presidente afirma que é defensor das lutas sociais, mas não concorda com atitudes como as exibidas na TV O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou de "vandalismo" a ação dos militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) na Fazenda Santo Henrique, da Cutrale, no interior de São Paulo. "Todo mundo sabe que sou defensor das lutas sociais. Agora, entre uma manifestação reivindicando alguma coisa e aquela cena de vandalismo na televisão, obviamente que não posso concordar com aquilo", declarou ele ontem, em entrevista coletiva no Itamaraty, ao ser indagado sobre a violência do MST.

Após a invasão ocorrida no dia 28 de setembro, os sem-terra arrancaram cerca de 7 mil pés de laranja, destruíram ou danificaram 28 tratores, além de depredarem instalações. Também são acusados de furtar equipamentos, defensivos e pertences de famílias de colonos, expulsas da propriedade. Eles foram despejados na quarta-feira.

Ontem, o presidente criticou a destruição da plantação com tratores da própria empresa. "Não tem explicação, para a sociedade, derrubar tantos pés de laranja para demonstrar que está reivindicando alguma coisa."

Lula argumentou que os movimentos podem reivindicar "sem precisar fazer destruição, em máquinas e em pés de laranja". E tentou demonstrar que o governo não vai deixar que esse tipo de ação fique impune. "Todo mundo no Brasil já aprendeu que este país tem lei, tem Constituição. Quem estiver dentro da lei pode fazer qualquer coisa. Quem não estiver pagará o preço por fazer", declarou.

IMAGENS

Auxiliares do presidente consideraram "muito fortes" as imagens divulgadas na TV, feitas de um helicóptero. As cenas mostravam um trator derrubando tudo o que havia pela frente.

O governo entende que atitudes como essa enfraquecem o MST, que já chegou a ter apoio de parte da classe média, mas agora é alvo de pesadas críticas. Nos bastidores, considerou ingênua politicamente a ação.

De acordo com assessores de Lula, a invasão a uma propriedade produtiva e a depredação do laranjal ocorreu no momento em que se articulava a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso para investigar repasses de dinheiro público a entidades ligadas ao MST.

No período entre a invasão e a divulgação na TV, o Palácio do Planalto conseguira "matar" a CPI, ao comandar uma operação de retirada de assinaturas. Mas, com a divulgação das cenas da depredação nesta semana, ruiu a estratégia do governo, que contara com a bênção do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).