Título: Crítica a prêmio une Taleban a republicanos
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/10/2009, Internacional, p. A14

Segundo líder da oposição, Obama não será premiado por 'criação de empregos'

Como em quase todos os assuntos que envolvem o nome de Barack Obama no polarizado ambiente político americano, o Nobel da Paz recebeu críticas de republicanos e de analistas conservadores, e elogios de democratas e da imprensa liberal.

Em um duro ataque à premiação, o presidente do Partido Republicano, Michael Steele, divulgou um comunicado dizendo que "a verdadeira pergunta dos americanos é o que o presidente Obama realmente realizou". Segundo ele, "é lamentável que a estrela do presidente tenha ofuscado as pessoas que verdadeiramente conseguiram avanços em busca da paz e dos direitos humanos". E emendou: "Obama não receberá nenhum prêmio dos americanos por criação de empregos, responsabilidade fiscal ou suporte de sua retórica com ações concretas."

Os democratas foram rápidos na resposta e disseram que os republicanos, ao repudiar o prêmio, se colocavam na mesma posição da milícia extremista Taleban e do grupo palestino Hamas - ambos considerados terroristas pelos EUA -, que também criticaram o Nobel para Obama.

Na blogosfera, o comentarista conservador John Podoretz, titulou seu artigo na Commentary Magazine como o "Michael Moore de Oslo", em alusão ao ativista de esquerda americano. A National Review, também conservadora, brincou dizendo que os organizadores do Nobel "poderiam esperar mais um pouco". O Drudge Report questionava: "Ele venceu, mas pelo quê?" A revista The Atlantic, uma das mais respeitadas dos EUA, trazia uma compilação de artigos aconselhando o presidente a rejeitar o Nobel, pelo menos temporariamente, até ter verdadeiras realizações.

Durante o dia, boatos surgiram de que a Casa Branca já saberia da premiação, o que foi prontamente desmentido pelo porta-voz, Robert Gibbs. A lembrança da derrota de Chicago para o Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 também foi amplamente citada, mas com o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ausente. Alguns blogs, como o de Glenn Thrush, no Politico.com, diziam que Bill Clinton estaria com ciúme de Obama pelo prêmio.

O liberal Huffington Post, assim como outras publicações ligadas aos democratas, celebravam nas suas capas o prêmio de Obama. Nas TVs, membros do partido do presidente também saudavam o Nobel e ironizavam os republicanos. A rede Fox News, considerado o canal mais conservador dos EUA, ignorava completamente a premiação de Obama durante a manhã. Já a CNN destacava o Nobel como a principal notícia do dia, mas dividindo espaço com um experimento da Nasa na lua, a gripe suína, a desvalorização do dólar e o Afeganistão.

A cobertura teve menos peso do que a escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos na semana passada. O Washington Post foi, dos principais jornais, o único que ampliou o tamanho das letras na sua manchete. O Wall Street Journal, o New York Times e o USA Today colocavam a notícia do Nobel como a principal do dia, mas sem destacar como algo extraordinário.