Título: Embaixadora assume posto no Conselho de Segurança
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2009, Nacional, p. A10
Maria Viotti representará Brasil nas Nações Unidas
A embaixadora Maria Luiza Viotti tornou-se ontem a mais importante mulher da história da diplomacia brasileira. Com a eleição do Brasil, por unanimidade, para uma vaga de membro temporário no Conselho de Segurança, a diplomata passará a representar o País no órgão decisório máximo das Nações Unidas a partir de janeiro.
Horas depois da votação, em seu escritório na missão brasileira em Nova York e em meio a telefonemas de congratulação, Maria Luiza recebeu o Estado para conversar sobre o retorno do País, pela décima vez, ao conselho. Ao lado do Japão, o Brasil é a nação, fora os membros permanentes, que mais tempo esteve presente no órgão, totalizando 18 anos. Poderia ser ainda mais caso, por iniciativa do Itamaraty, não tivesse se ausentado durante 20 anos (1968-1988), por causa do regime militar.
Indagada sobre como o Brasil poderá usar essa nova oportunidade para alcançar o almejado assento permanente, a embaixadora afirmou que os brasileiros podem "contribuir com soluções criativas para os principais problemas internacionais". Segundo a diplomata, o País deve intensificar ainda mais sua atuação em ações como as do Haiti e de Guiné-Bissau.
No país caribenho, de acordo com Maria Luiza, "o Brasil tem uma história de êxito no comando da Minustah (forças de paz da ONU para o Haiti)". Já no país africano, lidera a Comissão de Construção da Paz. "No mundo há quatro países que lideram essas missões. Três são desenvolvidos. Apenas o Brasil está em desenvolvimento", afirmou.
A diplomata disse ainda que o Brasil mantém um diálogo bom com os principais atores internacionais. Questionada se isso significará um maior envolvimento em questões mais distantes, como o conflito no Oriente Médio e o programa nuclear do Irã, ela foi enfática: "Somos vistos como interlocutores respeitáveis por todos os lados."
A presença no Conselho de Segurança envolve gastos elevados, ainda que de forma temporária. Segundo analistas de política externa, o governo brasileiro terá de gastar ainda mais caso consiga se transformar em membro permanente. Maria Luiza, porém, disse que o Brasil analisará caso a caso na hora de decidir sobre custos relacionados a participações do Brasil em missões internacionais.
O País ainda permanecerá no Conselho de Segurança da ONU depois do fim do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A política do Brasil para o órgão seguirá apenas no primeiro ano as linhas do governo Lula, de acordo com a diplomata. Ela preferiu não comentar o que ocorrerá depois.
No passado, Maria Luiza também serviu em outros postos na missão brasileira em Nova York. Segundo ela, a imagem do Brasil, no período, mudou "de maneira bastante nítida". "A ONU reconhece que somos uma economia mais forte, com instituições consolidadas e maior inclusão social", acrescentou.
OTIMISMO
O presidente Lula comentou, ontem, durante visita às obras do Rio São Francisco, o retorno do País ao Conselho de Segurança da ONU. Ele disse que está otimista quanto a uma reforma no colegiado e em seus membros permanentes ainda este ano. A reforma é reivindicada há 15 anos pelo País. "Estou convencido de que a reforma está como fruta madura, está passando do ponto, daqui a pouco cai", disse ele, ao considerar que o organismo está superado.
"Se a ONU quiser voltar a ter representatividade, tomar decisões e ter essas decisões executadas, ela tem de ser reformada e colocar outros países", observou o presidente. "A ONU de 1948 não representa a correlação de forças existente no mundo hoje, nem geograficamente, nem politicamente, nem economicamente".
COLABOROU ÂNGELA LACERDA
FRASES
Maria Viotti
Embaixadora na ONU
"A ONU reconhece que somos uma economia mais forte, com instituições consolidadas e maior inclusão social"
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
"A ONU de 1948 não representa a correlação de
forças existente no mundo hoje, nem geograficamente, nem politicamente, nem economicamente"