Título: Jihadistas buscam minar Estado paquistanês
Autor: AP ; Reuters
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2009, Internacional, p. A14

Analistas advertem que Al-Quaeda, Taleban paquistanês e grupos islâmicos uniram forças

A onda de ataques dos últimos 11 dias no Paquistão - foram 8 em várias partes do país - mostraram que o Taleban, a Al-Qaeda e outras milícias islâmicas que operam na Província de Punjab estão formando uma aliança cujo objetivo é minar o Estado paquistanês. É o que advertem analistas e oficiais do governo de Islamabad.

O estilo adotado nos ataques de ontem reforçam esta certeza. Há uma nítida cooperação entre essas três frentes terroristas como antes não se via. O governo tolerou por anos grupos jihadistas de Punjab - incluindo o Jaish-e-Muhammad e o Lashkar-Jjangvi-, e muitos paquistaneses os consideravam aliados em causas justas, como o combate à inimiga Índia aos Estados Unidos e aos muçulmanos xiitas. Agora eles passaram a se entrelaçar com a Al-Qaeda e com o Taleban no Waziristão do Sul, onde esses grupos jihadistas do Punjab têm apoio e abrigo'', disse o ex-ministro do Interior Aftaf Ahmed Sherpao, explicando os recentes ataques.

Para analistas de inteligência dos EUA, os ataques coordenados dos últimos dias levam a marca de operações da Al-Qaeda. Mas eles admitem que ainda é cedo para assegurar que a Al-Qaeda está influenciando o Taleban paquistanês. Segundo eles, as ações recentes podem ter sido orquestradas pelo Taleban paquistanês como forma de vingança pela morte de seu líder, Baitullah Mehsud, e um recado de que o grupo pode continuar atacando mesmo com a perda.

Por outro lado, a onda de ataques evidenciou o enorme desafio enfrentado pela administração de Barack Obama de reforçar o governo civil paquistanês e encorajar os militares a seguir em frente em sua campanha contr ao Taleban.

Apesar de ontem ter assinado um pacote de ajuda de US$ 7,5 bilhões ao Paquistão para os próximos cinco anos, Obama vem sendo criticado por militares e lideranças políticas paquistanesas por exigir, em troca, um maior controle dos militares pelo governo civil e o fim do auxílio governamental a grupos islâmicos. As demandas são vistas como ingerência nos assuntos internos do Paquistão.

O governo paquistanês também sofre uma pressão interna para vir a público explicar a natureza do inimigo. ''A narrativa nacional de apoio à jihad confundiu a população'', diz Khalid Aziz, ex-secretário chefe da Província da Fronteira Noroeste. ''Precisamos parar de falar em lutar a guerra do Islã e passar a pregar a guerra nacional'', acrescenta.