Título: Zelaystas planejam resistência pacífica
Autor: Simon, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2009, Internacional, p. A18

Embora setores organizados da sociedade hondurenha já convoquem uma "luta nacional" caso o presidente deposto Manuel Zelaya não seja restituído, os riscos de Honduras mergulhar em uma espiral de violência parecem ser remotos.

O grupo mais radical da base de Zelaya, a Frente Nacional de Resistência(FNR), garante que continuará a conduzir a campanha contra o governo golpista e por uma Assembleia Constituinte exclusivamente por meios pacíficos. Do outro lado, o governo de facto parece ter se conformado com as manifestações restritas, mesmo que elas violem o estado de sítio.

Como objetivo de boicotar a votação presidencial de 29 de novembro,a FNR ameaça Abrirem Honduras "territórios livres de eleições", segundo informou ao Estado Rafael Alegria, um de seus líderes. O método de boicote foi definido, de maneira eufemística, como"não reconhecimento ativo" do processo eleitoral.

Na prática, o grupo tentará mobilizar comunidades para impedir campanhas políticas e mesmo a colocação de urnas. Na luta contra os aliados do governo de facto serão usados até ovos de galinha, de acordo com o principal líder do grupo, Juan Barahona.

GANDHI Questionado sobre a possibilidade de recorrer às armas, Alegria se disse " discípulo da filosofia política do líder indiano Mahatma Gandhi". O modo de resistência, portanto, seria "a desobediência civil". Segundo Barahona, as contradições políticas inevitavelmente farão com que os hondurenhos se voltem contra o governo de facto e as eleições de novembro fracassem.

"Por que vamos votar se tiram nossos líderes, democraticamente eleitos, do poder?",questionou.

JUSTIÇA Em comunicado ontem, zelaystas denunciaram que o presidente de facto de Honduras, Roberto Micheletti, estaria ameaçando líderes da oposição. Segundo a FNR, Micheletti afirmou que levaria opositores "à Justiça". "São os golpistas que vão para o tribunal",respondeu Barahona.

Zelaystas e membros do governo de facto concordaram em não promover uma anistia geral, conforme previa inicialmente a Proposta de San José, do presidente da Costa Rica, Oscar Arias. Até agora, nenhum líder zelaysta importante foi preso.O governo de facto parou de reprimir manifestações opositoras no início da semana - quando chegaram a ser registrados confrontos entre ativistas e a tropa de choque na frente do hotel onde representantes dos dois lados se reúnem.