Título: Diretor do Inep relatou mudança à PF
Autor: Cafardo, Renata ; Pompeu, Sergio
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2009, Vida&, p. A21

Em depoimento, Heliton Tavares disse que provas de SP não iriam para o Rio; alteração na logística facilitou furto

Em depoimento à Polícia Federal sobre o vazamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o diretor de avaliação do Inep Heliton Ribeiro Tavares disse que sabia da mudança de logística feita pelo consórcio em São Paulo para a impressão e distribuição da prova.

Em nota enviada ontem ao Estado, Tavares afirma que limitou-se "a transmitir informações e argumentos repassados pelo consórcio Connasel", responsável pela organização do exame. "A diretoria responsável pelo Enem não recebeu do consórcio nenhuma comunicação sobre a mudança do plano logístico", completa.

Anteontem, o ministro Fernando Haddad afirmou na Câmara e no Senado que os cadernos de questão tinham sido manuseados em São Paulo sem o aval do governo. Segundo ele, o consórcio teria decidido sozinho remontar os pacotes de exames na cidade, em vez de enviá-los ao Rio, como previa o plano logístico. Haddad disse que até aquele momento não havia sido encontrada nenhuma comunicação oficial ao Inep sobre a mudança de logística.

O Enem acabou sendo furtado na sala de montagem em São Paulo, na gráfica Plural. O exame foi cancelado após Felipe Pradella e Gregory Camillo tentarem vender a prova ao Estado, que avisou o MEC.

Em depoimento na Polícia Federal, ao qual o Estado teve acesso, Tavares diz que "a FunRio (uma das três empresas que formam o consórcio) ficou responsável pela guarda das provas e posterior distribuição em todo País, com exceção do Estado de São Paulo, já que, como as provas eram impressas na gráfica Plural, localizada em São Paulo, seria um contrassenso a remessa das provas para o Rio de Janeiro e depois o seu retorno a São Paulo".

O depoimento foi dado em 2 de outubro, um dia após o cancelamento. Até então, não se sabia que o exame havia vazado da gráfica onde era impresso. Tavares é diretor de avaliação da educação básica do Instituto Nacional de Pesquisas e Estudos Educacionais (Inep), órgão do MEC. É o terceiro na hierarquia quando se trata do Enem - o primeiro é o ministro e o segundo é o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes.

Em seguida, ele diz à PF que "em razão dessa logística de distribuição das provas, as provas destinadas aos examinados do Estado de São Paulo seriam as últimas a serem impressas". Anteontem, Haddad afirmou a deputados e senadores que deveria ser "apurado quem mudou o plano logístico e por quê". No mesmo depoimento, Tavares informa que havia um funcionário do Inep "todos os dias" na gráfica para "acompanhar a impressão da prova". Ele não menciona a sala especial criada para que os cadernos de provas fossem montados. Com relação a esse tema, Tavares afirma que "me equivoquei e, inclusive, me corrigi em entrevistas posteriores".