Título: Dólar já vale menos do que R$ 1,70
Autor: Rocha, Silvana
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2009, Economia, p. B3

Otimismo no exterior garante quinta sessão seguida de alta do real

Na quinta sessão seguida de queda, o dólar rompeu a marca de R$ 1,70. A moeda americana encerrou a quinta-feira valendo R$ 1,699, um recuo de 0,23%. É o menor valor desde o início de setembro de 2008. No acumulado do ano, a desvalorização ante o real já chega a 27,2%. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu que o governo está preocupado com a valorização do real.

Segundo um operador que trabalha em um banco estrangeiro, os fatores que influenciaram a cotação do dólar ontem foram a alta das bolsas em Nova York e a valorização do petróleo e dos metais básicos no mercado internacional.

Nos Estados Unidos, os índices acionários recuperaram as perdas iniciais e terminaram o dia com leves ganhos na esteira da persistente valorização das commodities. O Índice Dow Jones, o mais tradicional da Bolsa de Nova York, avançou 0,47% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 0,05%. Ambos fecharam na máxima pontuação do dia.

Os preços do petróleo superaram a barreira dos US$ 77 por barril em Nova York e renovaram a máxima de fechamento do ano. Os investidores reagiram à queda nos estoques de gasolina e destilados no país na semana passada. O petróleo para novembro em Nova York subiu 3,19% e fechou a US$ 77,58. Esse desempenho impulsionou as ações do setor de energia.

Em São Paulo, o ministro Mantega afirmou estar "um pouco preocupado" com a recente valorização do câmbio. Ao fazer palestra no Congresso sobre Meios de Pagamentos, na capital paulista, ele ressaltou que a subida da moeda nacional ante o dólar é um reflexo, inevitável, do ingresso volumoso de capitais que está ocorrendo em razão dos bons resultados da economia brasileira espelhados em diversos indicadores.

"O Brasil hoje é visto de forma unânime no exterior como o país mais atrativo dos mercados emergentes, inclusive é o mais estruturado dentro dos Brics", disse. O ministro ressaltou que não gosta do termo bola da vez e ressaltou que é mais adequado destacar que o Brasil é o país mais interessante dos mercados emergentes para investimentos.

O economista-chefe da Gradual Investimentos, Pedro Paulo Silveira, afirmou que as perspectivas são de continuidade do fluxo cambial positivo para o Brasil, o que limita qualquer ajuste de alta da moeda americana.

Um dos fatores que, segundo especialistas, têm puxado o real para cima, é o volume de emissões de bônus globais, incluindo os soberanos e os corporativos. Até a primeira semana de outubro, foram cerca de US$ 15,5 bilhões, acima do total observado em 2008, de US$ 6,4 bilhões (volume que foi comprometido porque o mercado "secou" no segundo semestre por causa da crise internacional).

Somente nesta semana, duas captações foram realizadas e uma está em andamento. O Banco do Brasil, o primeiro emissor de bônus perpétuos no período pós-crise, concluiu captação de US$ 1,5 bilhão na terça-feira, numa operação cuja demanda somou US$ 13 bilhões.

A Odebrecht fechou ontem uma emissão de US$ 500 milhões. E o banco Panamericano deve concluir hoje a emissão de ao menos US$ 150 milhões. Outros possíveis emissores são BMG, Cemig, Braskem, Petrobrás, Samarco, MMX, Cosan, Telemar, além da República do Brasil. COLABOROU RICARDO LEOPOLDO