Título: Eike desiste, no momento, de fatia na Vale
Autor: Ciarelli, Mônica
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/10/2009, Economia, p. A14

Empresário reclama da ""politização"" de declarações e garante que seu interesse é "meramente comercial""

Incomodado com o que classifica de "politização" de suas recentes declarações, o empresário Eike Batista disse ontem à Agência Estado que desistiu "no momento" de comprar uma participação acionária na Vale. Há menos de uma semana, o discurso era diferente. Ele chegou a revelar, em entrevista ao Estado, que poderia voltar a negociar com o Bradesco e também estaria de olho em ações da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, na mineradora.

Na entrevista concedida ontem, por e-mail, o empresário aceitou responder a três perguntas e bateu na tecla de que seu interesse na mineradora é "meramente comercial, sem cunho político". Horas antes, havia divulgado nota na qual negava "peremptoriamente" estar negociando a compra de uma fatia acionária na Vale. Segundo a nota, seu único movimento nessa direção foi uma sondagem informal ao Bradesco - instituição que faz parte do bloco de controle da mineradora, junto com a Previ, BNDES, Mitsui -, que não prosperou.

Na entrevista publicada no domingo no Estado, ele admitia o interesse inclusive na participação excedente da Previ. "É pequena, mas, para sentar ali no conselho e direcionar, acho fantástico." Para defender sua entrada no controle da companhia, ele adotou um discurso alinhado ao do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao falar sobre a timidez dos investimentos da Vale. Eike chegou a afirmar que gostaria de ter o presidente da Previ, Sérgio Rosa, no comando da empresa, cargo hoje ocupado por Roger Agnelli.

O empresário chamou de "mera coincidência" o apetite do seu grupo EBX pela fatia do Bradesco na Vale ter vindo à tona ao mesmo tempo que o governo intensificava às críticas a política de investimento adotada por Roger Agnelli. A primeira ofensiva de Eike na direção da Vale foi feita em agosto, com uma sondagem ao Bradesco. O banco rejeitou a oferta, estimada pelo mercado (e nunca confirmada pelo empresário) em R$ 9 bilhões. Em seguida, teria direcionado suas baterias à Previ, maior acionista e única com direito de veto no conselho de administração. Ontem, Eike admitiu ter conversado com outros acionistas da Vale durante o que chamou de "sondagem informal" ao Bradesco.

As ações da MMX, empresa de mineração do grupo de Eike, acabaram sofrendo com a notícia de que o empresário desistiu de brigar por uma fatia na Vale. Os papéis fecharam ontem com queda de 2,8%, a maior registrada pelo índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa).

CVM

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aprovou ontem a proposta do empresário de pagar R$ 100 mil para encerrar um processo administrativo aberto pela autarquia. O executivo foi acusado, na qualidade de controlador indireto e presidente do conselho de administração da OGX, de ter desrespeitado as regras ao dar declarações à imprensa sobre a oferta pública de ações no período de silêncio exigido por lei.

COLABOROU VINÍCIUS PINHEIRO