Título: Guarda é uma dos atores mais influentes na economia
Autor: AP ; REUTERS
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2009, Internacional, p. A8

Além de força política mais poderosa do Irã, unidade controla série de setores

A Guarda Revolucionária iraniana vem agindo com agressividade para ampliar seu controle sobre a sociedade, adquirindo uma participação majoritária no monopólio sobre as telecomunicações do país. A aquisição de uma empresa vinculada à força de elite, avaliada em quase US$ 8 bilhões, aumentou a preocupação com aquilo que alguns chamam de ascensão de um "paragoverno" e levou parlamentares a iniciarem uma investigação sobre a transação.

"O problema não é apenas a guarda dominar a economia, mas controlar o Estado", disse Alireza Nader, coautor de um abrangente relatório da Rand Corporation sobre a unidade militar, criada como força de elite durante a fundação da República Islâmica.

No entanto, sua ampla responsabilidade - proteger a revolução - permitiu ao grupo expandir-se para além de suas atividades militares, evoluindo até se tornar a força política e econômica mais poderosa do país.

Cada vez mais, são os interesses da guarda e seus aliados que guiam a política do país, e estes interesses com frequência são definidos pelo isolamento em relação ao Ocidente.

CONTROLE POLÍTICO

A eleição realizada em junho deu início a uma onda de protestos e descontentamento nacional, enquanto muitos acusavam o presidente Mahmoud Ahmadinejad de roubar a vitória das mãos do opositor reformista Mir Hussein Mousavi. No entanto, a guarda e seus aliados, entre eles o presidente, foram incentivados e mantiveram-se firmemente no controle.

Desde os protestos, alguns dos principais oficiais e ex-oficiais da guarda foram instalados em importantes cargos no governo. Outra ferramenta empregada na extensão do alcance do poder da guarda no país foi o programa de privatização, cujo objetivo inicial era o fortalecimento da economia, mas que tem sido criticada como mero jogo de cena.

A aquisição do sistema iraniano de telecomunicações seguiu um padrão conhecido. Uma empresa particular, inicialmente aprovada pela Organização Iraniana de Privatizações, foi excluída enquanto compradora válida em decorrência de uma "situação de segurança" um dia antes de as ações serem postas à venda. O Consórcio Truste Mobin, afiliado à guarda, foi então o vencedor do leilão.

Antes deste caso, a mais notável tentativa da guarda de entrar à força num negócio envolveu a administração do aeroporto Imam Khomeini. Em maio de 2004, a guarda fechou o aeroporto e expulsou a empresa turca encarregada de administrá-lo, instalando sua própria empresa no controle.

Alguns analistas argumentam que a guarda, ao assegurar seu controle sobre os principais setores da economia, não teria interesse em abrir relações com o Ocidente, pois a integração na economia mundial poderia trazer ao país a concorrência, exigindo um grau de transparência que representa um desconforto à força de elite.

"Eles lucram a partir de uma situação na qual há sanções e carência, e na qual as pessoas não conseguem obter o que desejam.

Assim eles podem controlar um fluxo relativamente pequeno daquilo que as pessoas necessitam, cobrando um preço inflacionado," disse Michael Axworthy, especialista em história do Oriente Médio e do Irã.

"A Guarda Revolucionária não pode ser simultaneamente uma organização revolucionária e militante, dedicada à destruição do mundo e à exportação da revolução, e ao mesmo tempo agir como grande agência capitalista doméstica com o dedo metido numa série de negócios", disse um sociólogo no Irã que pediu anonimato. "Esse último papel leva a uma posição mais conservadora e pragmática, e não ao radicalismo."

ZONA DE INFLUÊNCIA

Telecomunicações: Guarda tem participação majoritária no setor

Programa nuclear: Militares supervisionam os programas nuclear e de mísseis

Combustível: Força administra campos de gás e petróleo

Serviços: De clínicas oftalmológicas a concessionárias de veículos, uma ampla rede de serviços faz parte do patrimônio da força