Título: Novo caso assusta a Renault
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/10/2009, Economia, p. B11

Empresa enfrentou onda de suicídios há três anos

A sombra dos suicídios em série por parte de trabalhadores da montadora de automóveis Renault voltou a pairar sobre o tecnocentro de Guyancourt, em Yvelines. Há pouco mais de uma semana, um engenheiro de 51 anos suicidou-se dias antes de ser transferido de função. A tragédia reabriu as feridas da epidemia de suicídios vivida no mesmo laboratório da empresa entre 2006 e 2007.

As mortes em série iniciadas há três anos ocorreram no cérebro da Renault, onde são criados e desenvolvidos os projetos de novos veículos do grupo. O suicídio aconteceu no dia 8 de outubro. O engenheiro havia sido informado dias antes de que receberia uma promoção, atrelada a uma transferência, e assumiria a direção de projetos de chassis, o desenvolvimento do novo modelo Logan e o comando sobre uma dúzia de fábricas do grupo.

A transferência enquadrava-se no sistema de "mobilidade preparada", uma política de recursos humanos que significa a troca de posto de trabalho a cada cinco ou seis anos. O diretor-geral delegado da Renault e número 2 do grupo, Patrick Pélata, se disse chocado pelo suicídio, mas isentou a empresa. "Nunca revimos com tanta profundidade os dispositivos de apoio, e estruturamos esses dispositivos em torno de um plano de melhoria das condições de vida e de trabalho das equipes."

A preocupação de Pélata se justifica. Há três anos, três engenheiros do mesmo tecnocentro de Guyancourt se suicidaram. Em 2007, a companhia lançou um plano de emergência que previa, entre outras medidas, o limite do tempo de trabalho, a reciclagem de gestores e o apoio psicológico constante. À época, uma investigação de sete meses realizada pelo escritório independente Technologia indicou que 31,2% dos executivos e engenheiros sofriam de "job strain", ou tensão no trabalho.