Título: Corregedoria vai apurar se Suplicy quebrou decoro
Autor: Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2009, Nacional, p. A11

Tuma espera receber até terça-feira fotos do senador desfilando de sunga vermelha pela Casa durante quadro de programa humorístico na televisão

A Corregedoria do Senado vai abrir uma sindicância para investigar se o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) infringiu o decoro parlamentar ao desfilar pelas dependências da Casa trajando uma sunga vermelha sobre o terno. O corregedor Romeu Tuma (PTB-SP) espera receber até a terça-feira fotos e imagens do senador no momento em que simulava ser um super-herói - provavelmente o Super-Homem -, a pedido da apresentadora Sabrina Sato, do programa Pânico na TV.

Tuma entende que o episódio atrapalha a tentativa do Senado de transmitir para a população "uma imagem de seriedade". "Eu já soube que tem fotografia mostrando a Sato vestindo a calcinha nele", disse. Para o senador, a situação se torna mais grave por ser protagonizada por um parlamentar de grande aceitação popular e não por outro "sobre quem já pesem acusações". "Pelo que ele representa para a população, pelo respeito de que ele goza, o efeito é muito mais forte do que se fosse alguém que já tenha acusações", explicou. "Ele goza da respeitabilidade de vários segmentos sociais."

O corregedor acredita que o Senado "está, sim, devagarinho, recuperando uma imagem de respeitabilidade" no País, após ser alvo das críticas provocadas pela existência de atos secretos para nomear parentes e afilhados políticos de senadores, inclusive do presidente José Sarney (PMDB-AP).

Suplicy, que estava no interior paulista para participar de uma banca universitária, reagiu à decisão de Tuma. Queixou-se do fato de não ter sido ouvido pelo corregedor e argumentou que o episódio não passou de uma brincadeira. "O senhor Romeu Tuma, antes de tomar qualquer decisão, deveria ter o bom senso de me ouvir, para saber exatamente o que aconteceu. Não apenas agir instigado pelo senador Heráclito Fortes", rebateu o petista, citando o senador oposicionista do DEM. "Foi apenas uma brincadeira. Não tem sentido quererem transformar isso em uma coisa séria."

Dizendo-se "muito tranquilo", Suplicy afirmou que deixou Sabrina lhe vestir a sunga após a apresentadora ter dito que o considerava um herói por defender a criação da Renda Básica de Cidadania. Disse ainda que, ao ser questionado se acreditava que há muitos heróis no Senado, respondeu que existem na Casa "muitas pessoas que batalham por seus ideais e merecem respeito e admiração".

REAÇÃO

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), por sua vez, divulgou nota na qual qualifica o gesto do colega petista de "impensado e grave". "Merece séria advertência e exige retratação pública", sugeriu, mas lembrou que o Conselho de Ética, que se responsabilizaria por um eventual processo contra Suplicy, "não reúne a mínima condição para abrir processo contra ele", por ter arquivado sumariamente "gravíssimas denúncias apresentadas contra o presidente José Sarney". "O senador cometeu falta muito grave, mas é reconhecidamente um homem de bem", afirmou. Outro tucano, o senador Álvaro Dias (PR), acha que seria "um exagero" a abertura de um processo contra o petista. "Mas com certeza sua atitude não ajuda a melhorar a imagem já desgastada da Casa", constata.

Não é a primeira vez este ano que Eduardo Suplicy vira alvo de polêmica por conta de seu comportamento na Casa. Em setembro, a Corregedoria se deteve no episódio dele ter transformado seu gabinete numa espécie de pensão para abrigar 15 manifestantes que vieram a Brasília para acompanhar o julgamento do pedido de extradição do italiano Cesare Battisti, em julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O processo não foi adiante, mas resultou na sugestão do corregedor Tuma de responsabilizar os senadores pelo que ocorre nos seus gabinetes fora do período norma de expediente, de 22 horas às 7 horas. Criticado pelo primeiro-secretário Heráclito Fortes (DEM-PI), Suplicy alegou que quis ajudar os manifestantes que, como ele, acreditam na inocência de Battisti.

COLABOROU CLARISSA OLIVEIRA