Título: Telefonemas põem fim a tiroteio contra a Vale
Autor: Nossa, Leonencio ; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2009, Economia, p. B4

Três telefonemas e um entendimento. Na quarta e quinta-feira desta semana, o presidente da Vale, Roger Agnelli, alvo do tiroteio sem precedentes do governo contra uma empresa privada, conversou duas vezes, por telefone, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e uma vez com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ao final das conversas, uma reunião do conselho de administração da mineradora aprovou ontem o plano de investimentos para 2010. E Agnelli permanece à frente da Vale.

O combate aponta para um final, ao que tudo indica, com apertos de mão e poses para foto na segunda-feira. O robusto plano de investimentos incluirá os preparativos para a construção de uma siderúrgica no Pará, Estado que abriga Carajás, o principal complexo de mineração da Vale, e onde Lula e a governadora petista Ana Julia Carepa reclamam mais empreendimentos da Vale.

Fontes ouvidas pela Agência Estado garantem que não haverá, pelo menos por enquanto, qualquer mudança na diretoria da empresa. Na verdade, se realmente fizesse questão de uma troca, o governo poderia fazê-la com certo conforto. O conselho de administração da Vale, composto por 11 membros, tem cinco integrantes ligados ao governo: quatro da Previ e um do BNDES (o próprio presidente do banco, Luciano Coutinho). Os demais são dois representantes da Bradespar, dois da japonesa Mitsui, um indicado pelos empregados e outro dos acionistas minoritários.

Agnelli esmerou-se em justificativas ao presidente Lula, que novamente criticou decisões como as demissões e o corte de investimentos em meio à crise. A demissão de quase 2 mil funcionários foi feita sem comunicação prévia ao governo, num momento em que a Vale recorria ao BNDES para obtenção de financiamentos de R$ 3,8 bilhões. Um dos critérios do banco para o apoio a empresas é a geração e manutenção de empregos. "Ninguém briga com o presidente da República e nenhum executivo pode brigar com o acionista de sua empresa", disse uma fonte ligada à Vale. O ano de 2010, de rebuliço eleitoral, será profícuo em novas obras da mineradora. Pelo menos em lançamento de "pedras fundamentais".

A campanha publicitária da Vale, que consumiu alguns milhões de reais e ocupou espaço na televisão, rádio, jornais, revistas, outdoors e aeroportos, foi suspensa, sem que o período de veiculação fosse concluído. A peça estrelada pelo ator José Mayer sequer foi levada ao ar - e nem será, segundo fontes ligadas aos acionistas.

O tom dos anúncios, explicitamente de resposta às críticas do governo, irritou o presidente da Previ, o petista Sérgio Rosa, que teve o nome referendado ao cargo por Lula. Também presidente do conselho de administração da mineradora, Rosa não foi consultado sobre a decisão. Reclamou publicamente do que considerou "um exagero".

Depois, surpreendido com o lançamento de seu nome para presidente da Vale, feito pelo empresário Eike Batista, candidato à compra de uma parcela da empresa, Rosa calou-se sobre o assunto. A amigos confidenciou ter estado com Eike apenas uma vez, quando o empresário o procurou para falar da negociação com o Bradesco. Nos últimos dias, Rosa e Agnelli, que não se consideram exatamente amigos, também conversaram para "aparar arestas" .