Título: Lula e Agnelli se reúnem na 2ª-feira
Autor: Nossa, Leonencio ; Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/10/2009, Economia, p. B4

Em Cabrobó, presidente anuncia que vai se encontrar com Agnelli em São Paulo para discutir investimentos

Um gesto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva abrandou oficialmente ontem a guerra declarada entre o governo e a direção da mineradora. Em Cabrobó, no sertão pernambucano, em visita às obras de transposição do Rio São Francisco, em campanha com a ministra e pré-candidata à Presidência Dilma Rousseff (Casa Civil), Lula anunciou o encontro de segunda-feira, em São Paulo, com Roger Agnelli, presidente da Vale.

""Ele vai me apresentar os projetos da Vale sobre investimentos importantes e vou esperar ele mesmo anunciar esses projetos"", afirmou Lula. Em entrevista após visita às obras de concretagem do Eixo Norte da transposição, o presidente deu a seguinte resposta às indagações dos jornalistas sobre uma eventual taxação das exportações do minério de ferro: ""não estamos pensando nisso"".

O encontro acontecerá em território governamental: o escritório paulista da Presidência da República. Ontem, mesmo acenando com a pacificação, Lula não recuou das cobranças: ""Eu quero que a Vale faça mais, exporte mais valor agregado e menos minério"", disse. "O que eu quero é que a Vale, que é uma empresa importante, não ache que é só do governo o interesse de fazer as coisas acontecerem. As grandes empresas também têm que fazer as coisas acontecerem e a Vale sabe a importância dela. Eu quero é gerar mais empregos"".

Lula informou que teve um encontro com Agnelli, há algumas semanas, no qual o presidente da Vale apresentou projetos de investimentos da companhia, entre os quais, o de uma siderúrgica. Em conversas anteriores que já teve com Agnelli, Lula tem citado a construção da usina siderúrgica de Marabá, no sudeste do Pará, cujo nome será Siderúrgica Aços Laminados do Pará.

O projeto dessa siderúrgica foi apresentado pela Vale no início do primeiro mandato do governo Lula e até hoje não saiu do papel. A siderúrgica seria abastecida com o minério de Carajás para a produção de placas de aço para exportação, elevando o valor das vendas externas brasileiras.

Sobre sua a relação com a diretoria da Vale, Lula voltou a dizer ontem não ter problemas com Agnelli. E comentou ter gostado da relação de projetos apresentados pelo executivo no Planalto, há algumas semanas. "Os projetos me satisfizeram. Me deixaram feliz"", disse, num tom diplomático.

O encontro Será a segunda conversa entre Agnelli e Lula em menos de uma semana. Na quarta-feira passada, os dois conversaram, mas por telefone, quando Agnelli falou dos grandes investimentos que a empresa está fazendo - na ocasião, em meio às queixas sobre as críticas, Lula disse que o governo não trabalha para derrubá-lo do comando da Vale, a maior produtora de minério de ferro do mundo.

As pressões do Planalto sobre Agnelli chegaram ao auge no dia 8 de setembro passado, numa audiência em que estavam presentes, além dos dois, os ministros da Fazenda, Guido Mantega e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Neste encontro, relatou ontem uma fonte do governo, "a conversa foi tensa e dura, mas os ponteiros foram acertados."