Título: Papel do Brasil na ONU atrai presidente iraniano
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2009, Internacional, p. A15

Aproximação seria boa para o Irã, já que País se tornará membro não permanente do Conselho de Segurança

A presença do Brasil no Conselho de Segurança da ONU no biênio 2010-2011, como membro não permanente, adicionará um novo componente à visita a Brasília do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, no dia 23 de novembro. A aproximação torna-se ainda mais interessante para Teerã caso uma resolução sobre novas sanções ao Irã seja votada na ONU.

Para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, os benefícios dessa aproximação seriam suficientes para resistir às pressões internas e externas contra a visita de Ahmadinejad.

Por enquanto, a diplomacia brasileira aposta na aprovação de Teerã ao pré-acordo acertado ontem entre o governo iraniano e as potências ocidentais (EUA, Rússia e França), sob a chancela da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), concluído em Viena, Áustria.

No entanto, diplomatas brasileiros advertem que, como membro não permanente do conselho, o Brasil terá de se posicionar caso o Irã se recuse a cumprir o acordo ou vier a dificultar as inspeções da AIEA. A posição do Brasil, afirmaram as mesmas fontes, dependerá das circunstâncias do momento. Para Teerã, entretanto, tornou-se ainda mais interessante construir um diálogo direto com o Brasil.

O incômodo da comunidade judaica brasileira com essa visita foi reiterado anteontem pelo grão-rabino Yona Metzger, autoridade máxima ashkenaze de Israel, que fez um apelo para que o Brasil não receba Ahmadinejad. Metzger disse ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que o líder iraniano "não é democrático" e "representa uma ameaça à paz regional".

Outra pressão relevante vem da Argentina, principal sócio do Brasil no Mercosul. Buenos Aires acusa o atual ministro iraniano da Defesa, Ahmad Vahidi, de ter participado do atentado contra a Associação Mutual Israelita-Argentina, que matou 85 pessoas em 1994.

Para o governo Lula, o foco da visita está nos negócios. O Itamaraty coordena um projeto de financiamento de exportações que é visto como uma porta de entrada para o Oriente Médio e a Ásia Central. Entre janeiro e setembro deste ano, o comércio bilateral somou US$ 839,4 milhões, dos quais US$ 821,9 milhões corresponderam às exportações do Brasil e apenas US$ 17,5 milhões a importações de bens iranianos.