Título: Dólar e bolsa voltam à rotina
Autor: Rocha, Silvana ; Fuoco, Taís
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2009, Economia, p. B4

Passado o primeiro impacto da taxação de estrangeiros, Ibovespa sobe e real se valoriza ante a moeda americana

O investidor retomou o apetite pelos ativos da bolsa brasileira muito mais rapidamente do que a maioria dos analistas esperava. Depois de apenas um dia de perda diante do início da taxação de 2% de IOF sobre o capital estrangeiro, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) recuperou parte dos ganhos e chegou a romper 67 mil pontos, marca alcançada no fechamento de segunda-feira depois de quase 16 meses.

Mas dados desanimadores do Livro Bege, divulgados nos EUA perto do fim do pregão, reduziram o ritmo e o principal termômetro da bolsa brasileira teve elevação de 0,28%, a 65.485 pontos.

No mercado de câmbio, que encerra os negócios mais cedo, o bom humor durou o dia inteiro. Depois de subir 2,65% em três dias, reagindo às expectativas e à confirmação da taxação do estrangeiro, o dólar caiu 1,09%, para R$ 1,725. O Banco Central (BC) fez até leilão de compra da moeda à tarde.

Para um operador, a recuperação vista ontem é até um pouco exagerada, "mas não dá para deter o capital". Segundo ele, o investidor parece ter feito as contas e chegado à conclusão de que, mesmo com a taxação, ainda vale a pena investir nos papéis do País.

Frederico Mesnik, sócio da Humaitá Investimentos, avalia que "ninguém esperava uma retomada tão rápida, mas isso não afasta a incerteza regulatória que o Ministério da Fazenda produziu no País". Segundo ele, o fato é que, no mercado doméstico, "nem ontem (terça) nem hoje (ontem) representaram dias normais". Ele acredita que a bolsa voltará a subir, mas "com um pouco mais de areia na engrenagem".

O economista Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio, disse que o volume de negócios no mercado à vista cresceu porque houve fluxo financeiro positivo direcionado à Bovespa e uma maior volatilidade das cotações, que abriu a possibilidade de operações de arbitragens.

A perspectiva de queda da moeda americana predomina no mercado e é amparada não só pela previsão de continuidade do fluxo cambial positivo, mas também pelos interesses dos "vendidos" em dólar, afirmou Nehme.

Para ele, "o BC deve alterar a dinâmica nos leilões de compra de dólares do mercado, restringindo o volume de suas intervenções ao excedente ou até menos e não permitindo que bancos com posições vendidas participem dos mesmos".

Segundo o BC, o ingresso de dólares neste mês até o dia 16 é liderado pelo segmento financeiro, que acumulou saldo líquido positivo de US$ 9,910 bilhões (com ingresso total pela conta financeira de US$ 25,495 bilhões e saída de US$ 15,585 bilhões). Nessa conta, são incluídos os movimentos de estrangeiros que ingressam no País para compra de ações e títulos, investimentos produtivos e remessas de lucros, entre outros.

Na conta comercial, no mesmo período, houve superávit de US$ 579 milhões (com exportações de US$ 6,469 bilhões e importações de US$ 5,890 bilhões).