Título: Copom confirma previsão e mantém Selic em 8,75%
Autor: Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/10/2009, Economia, p. B6

Comunicado do comitê indica que patamar continua ""consistente com um cenário inflacionário benigno""

Em decisão esperada pelo mercado, o Banco Central manteve ontem por unanimidade o juro básico da economia, a Selic, em 8,75% ao ano. Mesmo com a aceleração da atividade nas últimas semanas, o Comitê de Política Monetária (Copom) ressaltou que ainda há ociosidade nas fábricas e o patamar da taxa continua em nível "consistente com um cenário inflacionário benigno". A decisão de ontem foi a primeira após a filiação do presidente do BC, Henrique Meirelles, ao PMDB.

"Levando em conta, por um lado, a flexibilização da política monetária implementada desde janeiro e, por outro, a margem de ociosidade dos fatores produtivos, entre outros fatores, o comitê avalia que esse patamar de taxa básica de juros é consistente com um cenário inflacionário benigno", diz o comunicado divulgado após a reunião de ontem.

Para os diretores do BC, o juro atual contribui "para a recuperação não inflacionária da atividade econômica" e para "assegurar a manutenção da inflação na trajetória de metas ao longo do horizonte relevante".

A despeito do aumento do gasto público e da retomada mais forte da atividade, o texto mostra que o Banco Central mantém uma avaliação tranquila sobre a evolução da inflação. Prevalece o entendimento de que ainda há ociosidade e, mesmo com a reação da atividade, os preços não devem ter alta relevante por enquanto.

"Acredito que o grau de ociosidade só vai diminuir consistentemente na metade de 2010. Até lá, não vejo pressão inflacionária", avalia o economista-chefe do HSBC Brasil, André Loes, que acertou a decisão ao prever estabilidade com placar unânime.

Para Loes, a grande questão sobre o juro diz respeito ao início do aperto monetário esperado para 2010. Alguns economistas preveem que a Selic poderia começar a subir já no início do próximo ano. Outros, como ele, apostam em meados do próximo ano.

SUCESSÃO

O início da subida do juro deverá ser uma decisão pautada por dois fatores: as eleições presidenciais e a previsão de troca na diretoria do BC. "A discussão sobre a questão eleitoral sempre vai existir. Foi assim em 2002 e até em 2006. Por enquanto, já temos a declarada intenção política de Henrique Meirelles e a perspectiva de troca gradual na diretoria. O mercado ficará nervoso até que haja uma definição", diz Loes.

Há rumores de que podem sair gradualmente nos próximos meses os diretores de Política Econômica, Mario Mesquita, de Política Monetária, Mario Torós, e de Liquidação, Antonio Gustavo do Vale.

A perspectiva de uma troca de nomes na diretoria do BC foi deflagrada no fim de setembro, quando Meirelles oficializou a filiação ao PMDB. A hipótese de que o presidente do BC pode tentar o governo de Goiás, o Senado ou a Vice-Presidência causou algum desconforto na diretoria da instituição e planos pessoais de saída da instituição foram acelerados. Há rumores de que Mesquita poderia ser o primeiro a deixar o banco, em breve.

Essa possível troca de cadeiras trouxe grande preocupação no primeiro momento, mas o assunto gera menos desconforto atualmente. Com os sinais de que a mudança deverá ser gradativa, o nervosismo diminuiu, mas o tema continua no radar dos analistas.