Título: EUA oferecem diálogo ao Sudão
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2009, Internacional, p. A14

Ao mesmo tempo em que propõe incentivos ao governo sudanês, Casa Branca ameaça país com novas sanções

CORRESPONDENTE, WASHINGTON

O presidente americano, Barack Obama, anunciou ontem uma nova estratégia para lidar com o Sudão que combina sanções com incentivos. A Casa Branca renovou as sanções contra o regime do presidente sudanês, Omar al-Bashir - acusado de ser o responsável pela morte de centenas de milhares de civis na região de Darfur - e disse que aumentará a pressão sobre Cartum se a situação não melhorar. Ao mesmo tempo, Obama também acenou com a possibilidade de incentivos, caso o Sudão coopere.

"Se o governo do Sudão agir para melhorar a situação no país e promover a paz, haverá incentivos. Se não, haverá uma pressão crescente imposta pelos EUA e pela comunidade internacional", disse Obama em comunicado.

O presidente do Sudão foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade em razão do massacre de civis em Darfur. Muitos ativistas criticaram a estratégia de Obama, porque, segundo eles, a Casa Branca estaria negociando com um genocida.

Ao anunciar a estratégia, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, lembrou que as atrocidades no Sudão causaram a morte de 2 milhões de pessoas nos últimos dez anos. Ela enfatizou que um dos principais objetivos de Washington, ao atuar no Sudão, é evitar que o país se transforme em um reduto de terroristas.

"Um Sudão instável não ameaça apenas o futuro de seus 40 milhões de habitantes, mas pode também ser um berço da violência numa região que já é volátil e pode oferecer um santuário para terroristas internacionais", disse Hillary.

Outro objetivo dos EUA é ajudar a adoção do acordo de paz entre o governo sudanês e os rebeldes do sul do país. O documento foi assinado em 2005 .

A nova política americana foi apresentada por Hillary, pela embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, e pelo enviado especial dos EUA ao Sudão, general Jonathan Scott Gration. Washington não deu detalhes sobre quais incentivos serão oferecidos ao regime de Bashir.

Segundo analistas, tirar o Sudão da lista de países patrocinadores do terrorismo e concentrar as sanções sobre alguns indivíduos são exemplos das pressões e incentivos que podem ser adotados.

ESTRATÉGIA SUAVE

Alguns ativistas demonstraram receio em relação à nova estratégia, que consideram "suave demais". O general Gration havia irritado alguns legisladores ao dizer que não via necessidade de manter o Sudão na lista de países patrocinadores do terrorismo e argumentar que algumas sanções não eram "construtivas".

Para rebater essas acusações, a Casa Branca renovou as atuais sanções. "Não haverá incentivos sem progressos concretos", disse Susan Rice.

O grupo de defesa dos direitos humanos Salvem Darfur elogiou a estratégia, mas com algumas reservas. "Incentivos não devem ser dados antes que haja um progresso concreto", disse o diretor do grupo, Jerry Fowler. COMENTÁRIOS