Título: Comissão anula votos de Karzai no Afeganistão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2009, Internacional, p. A11
Grupo ligado à ONU confirma fraude e disputa presidencial pode ser decidida em segundo turno
AFP, AP E REUTERS, CABUL
Um comitê de investigação ligado à ONU divulgou ontem que o presidente afegão, Hamid Karzai, não obteve o número de votos suficientes para vencer a eleição realizada em 20 de agosto no primeiro turno.
Após dois meses investigando denúncias de fraudes, a Comissão de Reclamações Eleitorais determinou que fossem anulados milhares de votos a favor de Karzai. Com isso, o presidente ficou com 48%, abaixo dos 50% necessários para evitar a realização de um segundo turno contra o ex-chanceler Abdullah Abdullah.
Após horas de incertezas sobre se o governo acataria ou não as acusações de fraude, Karzai afirmou que respeitará a decisão constitucional sobre a eleição presidencial. A informação foi dada por Michele Montas, porta-voz da ONU.
Segundo ela, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, conversou por telefone com Karzai e pediu que ele respeite o processo constitucional. O presidente afegão teria prometido que o faria.
PRESSÃO
Na véspera da divulgação do resultado das investigações, o governo do presidente dos EUA, Barack Obama, havia colocado pressão sobre Karzai e anunciado que só enviará mais tropas ao Afeganistão após a crise eleitoral ser resolvida.
Um grupo de monitores independentes, chamado Democracia Internacional, calculou que Karzai tenha ficado com 48,3% dos votos - cerca de 2,1 milhões de votos -, depois de ter mais de 995 mil de seus votos anulados por fraude.
De uma maneira geral, cerca de 1,3 milhões dos mais de 5 milhões de cédulas foram invalidadas. Cerca de 201 mil dos votos de Abdullah também foram anulados, mas seu porcentual aumentou de 27,8% para 31,5%.
COERÇÃO
Resultados preliminares, divulgados no mês passado, mostravam Karzai como o vencedor da eleição, com 54% dos votos. No entanto, após inúmeras acusações de coerção de eleitores e de votos falsos, foi lançada uma investigação sobre o processo eleitoral afegão. O porta-voz de Abdullah, Fazel Sancharaki, elogiou a conclusão da comissão, dizendo que era "um passo adiante" na democracia.
Pela legislação afegã, o órgão ligado à ONU tem a palavra final sobre as fraudes. Pela lei, o Comitê Eleitoral é obrigado a aceitar as conclusões da comissão. Alguns partidários de Karzai, contudo, argumentam que a recontagem parcial dos votos extrapola as atribuições da comissão e, por isso, o Comitê Eleitoral ainda poderia rejeitar os resultados.
Grant Kippen, diretor da Comissão de Reclamações Eleitorais, disse que não via uma maneira legal de o governo ignorar as conclusões do grupo. "Nossas decisões são finais. Seguimos a lei e espero que o Comitê Eleitoral faça o mesmo."