Título: Endividar-se ou não crescer
Autor: Andrei Netto
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/10/2009, Economia, p. B8

Para sair do hiperendividamento, o primeiro passo dos países industrializados deve ser reduzir os gastos públicos - em especial os pacotes de estímulo econômico criados após a quebra do banco de investimentos americano Lehman Brothers, há um ano. A receita, tantas vezes recomendada a países emergentes, é da OCDE. O problema: a entidade defende por ora a manutenção dos incentivos, já que a retomada econômica está só no início.

O paradoxo é apontado pelos especialistas em finanças públicas na Europa: se mantiverem os pacotes, os países do G-7 aprofundarão o endividamento; se os cancelarem, reduzirão o velocidade de crescimento, a geração de empregos, de renda e de impostos. "É um momento muito delicado para as finanças públicas internacionais", avalia Jean-Luc Schneider, diretor-adjunto do Departamento de Economia da OCDE.

Além do desafio econômico, o hiperendividamento deve resultar em tensão política, cujo pico deve acontecer, na Europa, na definição das Leis de Finanças de 2011, entende Schneider. Até lá, o aumento mais elástico da dívida já terá acontecido na maioria dos países da OCDE. Um efeito político temido por experts da UE é a redução da independência dos bancos centrais, que seriam pressionados a flexibilizar as metas de inflação.

Consultado pelo jornal "Le Monde" sobre a possibilidade de retorno da inflação à Europa, Jean-Marc Daniel, economista e professor da Escola Superior de Comércio de Paris, alerta para o perigo dessa hipótese, que engendraria o risco de implosão da União Europeia. "A inflação variaria de um país a outro da zona do euro, o que a tornaria incontrolável, dadas as distorções das taxas de juros que já existem. A perenidade da moeda única do bloco estaria em jogo." COMENTÁRIOS