Título: Planalto aposta em Múcio para enquadrar o TCU
Autor: Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2009, Naconal, p. A8

Ex-ministro de Lula ocupa seu posto no tribunal de contas, assumindo[br]o papel de bombeiro, e garante que vai investir na conciliação

Escalado pelo Planalto para ser no Tribunal de Contas da União (TCU) um defensor do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o novo ministro do órgão, José Múcio Monteiro, tomou posse ontem em meio a um clima pluripartidário e amistoso. A esperada batalha verbal entre dirigentes do governo e do TCU deu lugar a discursos de conciliação.

Estavam presentes, além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsável pela indicação, dez ministros de Estado e os presidenciáveis José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT).

Os ânimos no governo se acirraram após as frequentes paralisações de obras determinadas pelo TCU, por suspeita de irregularidades. Em setembro, foram atingidas 13 obras do PAC. Inconformado, Lula tem feito críticas ao tribunal, que julga ser um "aparelho" da oposição. Ele indicou Múcio para o lugar do ministro Marcos Vilaça, que se aposentou, na esperança de neutralizar o que considera um foco de hostilidade ao governo. O presidente do TCU, Ubiratan Aguiar, ex-deputado do PSDB-CE, tem rebatido o Planalto.

Mas, em vez de agir como soldado de infantaria, Múcio assumiu papel de bombeiro. "Não creio no exercício fútil da divergência improdutiva e no debate inócuo, porque esse é o lado do espetáculo que serve apenas para distrair os espectadores", disse. Num discurso de dez minutos, Múcio - que foi ministro de Relações Institucionais de Lula - deixou claro que vai investir na conciliação, evitando o confronto. "Sempre que possível, vou orientar e prevenir, em lugar de condenar e remediar."

Ele prometeu lealdade ao órgão, garantindo que vai exercer a tarefa de avaliação e aplicação das políticas públicas com empenho. "Não só como dever, mas também como um gesto de respeito ao dinheiro do contribuinte, que paga seus impostos, e ao cidadão." E enfatizou: "Minha vida pública sempre foi marcada pela convergência, pois acredito no diálogo e na troca de ideias como ponto de partida e de chegada."

A única resposta às críticas do governo saiu do discurso do presidente do órgão, feita com um toque de ironia. Ubiratan Aguiar agradeceu a Lula por ter sido, como constituinte em 1988, um parlamentar que subscreveu, "com seu voto isento", o capítulo que trata das competências dos tribunais de contas, inclusive o TCU, e "a ação do controle que se faz necessário para o aperfeiçoamento da administração pública". Em seguida, ele fez uma saudação discreta ao novo colega.

Elogios explícitos, o presidente do TCU só dirigiu ao vice-presidente José Alencar, o qual qualificou como "exemplo de homem ético, determinado e de moral elevado" - o discurso foi interrompido por aplausos.

Lula permaneceu sério o tempo todo e somente teve um leve sinal de descontração quando o governador José Serra (PSDB) chegou, atrasado, ao recinto. O presidente deu um leve sorriso, saudando-o com o polegar levantado, e foi correspondido com um aceno.