Título: Karzai reconhece fraudes e aceita disputar o 2º turno da eleição afegã
Autor: AP; NYT ; REUTERS
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2009, Internacional, p. A9

Comissão ligada ao presidente confirma que ele não obteve 50% dos votos e ordena nova rodada de votação

Sob intensa pressão internacional, o presidente afegão, Hamid Karzai, reconheceu que houve fraude nas eleições presidenciais de 20 de agosto e aceitou disputar o segundo turno, no dia 7.

Sua decisão foi tomada após uma investigação da Comissão de Reclamações Eleitorais, patrocinada pela ONU, determinar que quase um terço dos votos de Karzai deveriam ser anulados por causa de fraude.

Após essa recontagem, o presidente ficou com 48% dos votos, ou seja, menos do que os 50% necessários para se reeleger no primeiro turno. Ele enfrentará o ex-chanceler Abdullah Abdullah, segundo colocado, com 31,5%.

"Faço um apelo à nação para ver esse momento como uma oportunidade de levar o país adiante e participar dessa nova rodada de votação", disse Karzai, ao deixar um encontro com os diretores da Comissão Eleitoral do Afeganistão, organização controlada por aliados do presidente.

A comissão confirmou a conclusão do órgão da ONU de que Karzai não teve a votação necessária para evitar o segundo turno, mas divulgou um número um pouco diferente: 49,67%. A porcentagem divulgada inicialmente era de 54,6%.

Ao lado do senador americano John Kerry e do enviado da ONU Kai Eide, Karzai agradeceu a ajuda da comunidade internacional e disse que gostaria de poder continuar contando com o apoio externo para a segunda rodada de votação.

No entanto, le não expressou arrependimento pela fraude em massa, que fez com que ele perdesse 1,3 milhão de seus 3 milhões de votos.

Agora que as investigações sobre as fraudes foram finalizadas, os responsáveis pela eleição têm de organizar uma nova votação, em meio à crescente ameaça do Taleban e ao início do severo inverno afegão.

"Com certeza o Taleban usará toda a sua força para atrapalhar a eleição", disse o analista afegão Waheed Mozhdah. "O segundo turno será difícil se o objetivo for uma eleição mais transparente do que a do primeiro turno."

Ao aceitar um segundo turno, Karzai aliviou as tensões com o Ocidente, especialmente com os EUA. O presidente Barack Obama havia condicionado o envio de mais tropas ao país à resolução da crise eleitoral.

Obama telefonou para Karzai e o parabenizou por ter aceitado o segundo turno. "Essa eleição poderia ter permanecido sem uma resposta, mas as ações do presidente Karzai estabeleceram um precedente importante para a nova democracia afegã", disse Obama, por meio de um comunicado. "A Constituição do país se fortaleceu com a sua decisão. Agora, é crucial que toda a sociedade afegã continue unida para lutar pelo avanço da democracia, da paz e da justiça."

O premiê britânico, Gordon Brown, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também elogiaram a decisão do líder afegão. A Casa Branca deixou claro que, para que os EUA tenham sucesso no país, é essencial que haja uma governo legítimo e confiável em Cabul.

Obama deve se reunir com assessores nesta semana e na próxima para analisar o pedido do general Stanley McChrystal, que defende o envio de mais 40 mil soldados para a guerra afegã.