Título: Regime usou canhão de som contra embaixada
Autor: Simon, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2009, Internacional, p. A12

Enviados do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos iniciaram ontem em Honduras uma investigação sobre abusos cometidos pelo governo de facto desde o golpe de 28 de junho. Entre as várias denúncias estão as violações cometidas contra a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, incluindo o uso de um canhão de som que emite ondas de altíssima frequência.

Projetada como arma não letal para dispersar multidões em lugares abertos, o dispositivo foi empregado pela polícia hondurenha contra a missão brasileira poucos dias após o presidente deposto, Manuel Zelaya, refugiar-se na casa. À época, estavam dentro da embaixada brasileira mais de 300 pessoas.

Certos modelos de canhão emitem ondas de até 150 decibéis, podendo causar dor insuportáveis e danos permanentes à audição. Alguns modelos podem também se converter em microfone ultrassensível. Leve e portátil, o dispositivo tem sido uma das principais armas usadas por embarcações na costa leste da África para evitar ataques de piratas somalis.

Segundo o Estado apurou, o Itamaraty mostrará à comissão da ONU fotos e gravações de áudio que comprovam as violações cometidas contra a representação brasileira. O relatório final deverá ser apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da organização, com sede em Genebra, na Suíça, e poderá dar força a uma investigação contra o governo de facto comandado por Roberto Micheletti. Atualmente, potentes alto-falantes emitem sons de animais nos muros da embaixada e dois holofotes iluminam a casa durante a noite inteira.