Título: Oferta de Micheletti é 'insulto', diz Zelaya
Autor: Simon, Roberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2009, Internacional, p. A12
Na véspera de completar um mês hospedado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, qualificou de "insulto" a proposta apresentada pela comissão negociadora do governo de facto e deu sinais de que a nova tentativa de diálogo será incapaz de superar o atual impasse.
A proposta que estancou as negociações foi apresentada pelos golpistas na noite de segunda-feira. Representantes do presidente de facto Roberto Micheletti disseram que a mesa de diálogo teria soberania para decidir sobre a restituição de Zelaya, mas apenas depois de "consultar" a Corte Suprema de Justiça e o Congresso.
Em meio à nova onda de discórdia, Zelaya recebeu na embaixada brasileira Arturo Corrales, um dos três membros da equipe de negociadores de Micheletti. "Vi que o outro lado tem boas intenções", disse Corrales. O encontro, entretanto, não fez avançar o diálogo.
Para Zelaya, as propostas do governo de facto são "uma manipulação, um jogo, uma nova bofetada do regime no mundo". Ele sustenta que a decisão sobre seu regresso é uma decisão política, que deve se submeter apenas ao Legislativo.
MANOBRA
"Nós já fizemos nossa proposta", rebateu a porta-voz da comissão negociadora do regime de facto, Vilma Morales. "Quando colocamos uma proposta sobre a mesa é porque queremos uma resposta."
Um dos membros da comissão que representa Zelaya, Víctor Mesa, declarou que só voltará à mesa de negociação depois que o governo de facto apresentar uma proposta construtiva.
A posição crítica do grupo de Zelaya contrasta com o tom otimista demonstrado ontem pelo enviado da Organização dos Estados Americanos (OEA) a Honduras, John Biehl. "Nunca daremos um diálogo por fracassado. Não perdemos nem perderemos nunca a fé no que os hondurenhos estão fazendo", disse. "Apesar da estagnação, estou absolutamente convencido de que os hondurenhos se reconciliarão e fortalecerão sua democracia."
O grupo de Micheletti tenta ganhar tempo até 29 de novembro, quando ocorre uma nova eleição presidencial. A comunidade internacional já afirmou, no entanto, que não reconhecerá o resultado de nenhuma eleição que seja realizada sob um governo ilegítimo. Originalmente, o mandato do presidente deposto só terminaria no dia 27 de janeiro.
Com o impasse na negociação política, cresce a movimentação de ambos os grupos em torno das eleições de novembro. Membros da Frente de Nacional de Resistência, ala mais radical que apoia Zelaya, prometem impedir a realização da eleição enquanto o presidente deposto não for restituído.
Zelaya, entretanto, negou ontem que pretenda promover uma "insurreição". "É uma acusação absurda. Não é racional que pessoas que têm armas declarem uma pessoa indefesa perigosa", disse em referência a sua própria situação na embaixada brasileira, onde está cercado por militares desde o dia 21 de setembro.N