Título: Roma faz concessões a quem aderir à Igreja
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Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2009, Vida&, p. A16

Católicos de tradição anglicana, assim serão tratados os clérigos e fiéis anglicanos que se converterem para a Igreja Católica.

Apesar de todos os privilégios que a Constituição Apostólica aprovada pelo papa Bento XVI reserva aos convertidos, incluindo a admissão de padres casados e a ordenação de seminaristas que pretendam se casar, não se trata de um movimento ecumênico, no qual cada grupo mantém a sua fé, mas de algumas concessões de Roma àqueles que aderem à doutrina e à disciplina católica.

"Os anglicanos que se tornam católicos deixam de ser anglicanos, embora possam manter algumas tradições de sua antiga fé", disse o padre Elias Wolff, assessor da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Além da admissão de padres casados, como já ocorre em igrejas católicas de rito oriental, Roma reconhece valores anglicanos na área da liturgia e da espiritualidade anglicanas. Ou seja, os convertidos manterão uma maneira de ser católicos herdada de suas raízes.

Bispos brasileiros que acompanham de perto a aproximação entre católicos e anglicanos, movimento intensificado nos anos 1980 com a bênção de João Paulo II, esperavam que alguma coisa estivesse para acontecer, mas surpreenderam-se com o anúncio, ontem, da Constituição Apostólica. O arcebispo de Belo Horizonte, d. Walmor Oliveira de Azevedo, membro recém-nomeado da Congregação para a Doutrina da Fé, responsável pelo documento a ser divulgado, sabia que ele estava para ser anunciado, mas não sabia quando.

"Passei a manhã reunido com bispos anglicanos e ninguém comentou nada", disse o padre José Bizon , coordenador da área de ecumenismo e diálogo inter-religioso na Arquidiocese de São Paulo. Em sua opinião, a Constituição Apostólica deverá ser um grande passo para maior entendimento com a Igreja Anglicana, que já tem excelentes relações com a hierarquia católica no Brasil.

Padre Wolff, da CNBB, compara o ordinariato a ser criado para os anglicanos convertidos à prelazia pessoal do Opus Dei, embora o nome seja diferente. O ordinário - padre ou bispo nomeado para o cargo - será de tradição anglicana, portanto um convertido identificado com as tradições anglicanas.

Essa deferência aos anglicanos que aderem em tudo à fé católica, incluindo o reconhecimento da autoridade do papa, não faz concessões em questões doutrinárias. Os convertidos passam a reconhecer, por exemplo, os sete sacramentos que, segundo a Igreja Católica, são todos de instituição divina.

Para a Igreja Anglicana, há dois sacramentos " maiores" - batismo e eucaristia, de instituição divina - e cinco sacramentos menores, os sacramentos da Igreja. O Vaticano ressalva que alguns itens que dividem os anglicanos - sacerdócio para mulheres, ordenação de homossexuais e casamento de pessoas do mesmo sexo - continuam sendo vetados na Igreja Católica.