Título: Em dia de fortes oscilações, bolsa cai 2,88% e dólar sobe para R$ 1,744
Autor: Rocha, Silvana ; Fuoco, Taís
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2009, Economia, p. B3

Analistas de mercado acreditam, porém, que tendência de médio e longo prazo para ativos brasileiros é positiva

A taxação do capital estrangeiro para aplicações em renda fixa e ações trouxe de volta ao mercado brasileiro as fortes oscilações - para baixo - que há alguns meses haviam desaparecido. Depois de um intenso vaivém, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) caiu 2,88% e o dólar subiu 1,93%, para R$ 1,744.

Para muitos analistas, o movimento de ontem foi a justificativa perfeita para a chamada realização de lucros, depois de semanas em que a bolsa subiu fortemente. Esses acreditam que o efeito negativo da cobrança de um imposto (IOF) de 2% sobre investimentos de estrangeiros em renda fixa e variável será limitado. Passado o susto, o real voltaria a se valorizar e a bolsa, a subir fortemente.

"Haverá estresse por alguns dias", disse o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Na avaliação dele, porém, há ao menos duas razões para que o impacto seja passageiro. A primeira delas é que o investidor que aplica na América Latina, segundo ele, dificilmente trocará o Brasil por Chile ou México (os outros dois principais mercados da região).

Além disso, Lima Gonçalves pondera que uma alíquota de 2% "é pouco". "Para funcionar, teria de ser mais. Mas, para tributar a entrada em bolsa em mais de 2%, é preciso ter peito."

Segundo o operador de câmbio José Carlos Amado, da Renascença Corretora, alguns estrangeiros venderam ações na Bovespa ontem e compraram dólar para remessas ao exterior, sustentando os ganhos da moeda à vista e a forte queda da Bovespa. De acordo com ele, o cenário externo de aversão ao risco também pesou, por causa dos indicadores do setor imobiliário americano piores do que as previsões.

Para Amado, se o ambiente externo não melhorar hoje, o mercado doméstico poderá ficar ainda mais nervoso e assistir a um ajuste mais forte no câmbio, com o dólar aproximando-se de R$ 1,80, e uma realização de lucros mais profunda na Bovespa.

Para um operador de tesouraria de uma instituição estrangeira, a alta do dólar ocorreu com um volume de negócios à vista mais fraco do que o anterior porque o fluxo cambial se limitou a ingressos de recursos de exportadores, uma vez que os investidores estrangeiros não vieram para o País. Esses agentes externos, afirmou, preferiram fazer arbitragens comprando ADRs (recibos de ações) de empresas brasileiras em Nova York, para se livrar do pagamento do IOF de 2% na entrada no Brasil.

Outro operador de câmbio de uma corretora atribuiu o salto do dólar, em parte, a especulações. "Muita gente comprou moeda e depois vendeu hoje (ontem) mesmo para realizar lucro no day trade (transação de um dia)", afirmou.

Para essa fonte, quanto mais o dólar subir, mais oportunidade de ganhos haverá e não será essa taxação que vai, no médio prazo, conter o fluxo de capital estrangeiro para o País, já que os fundamentos da economia brasileira são sólidos, a possibilidade de retorno financeiro é alta e o risco é baixo.

No mercado acionário, muitos operadores comentaram que os preços dos ativos já haviam "esticado" bastante e a bolsa precisava "de um respiro", nas palavras de um profissional. Segundo ele, enquanto assimila a medida, o investidor decidiu realizar lucros nesta terça-feira.

Para Rodrigo Falcão, operador de mercado da Icap Brasil, o que se espera de mais efetivo com a decisão do governo é uma redução no volume diário negociado na bolsa. "A expectativa é de que esse volume vá minguar um pouco e parte migre para as ADRs em Nova York", explicou. Ele estimava que o giro diário da bolsa dobrasse em dois ou três anos, "mas agora" tem dúvidas.

Segundo Falcão, "o investidor vai continuar comprando ações do Brasil" e, se a taxação for um problema, vai fazê-lo através das ADRs fora do País. Como vários de seus colegas, ele atribuiu a queda de ontem mais a uma realização de lucros do que a uma reação ruim. "Não vai ser isso que vai fazer uma mudança estrutural em tudo o que o País já conquistou", afirmou.

Para o economista e diretor do MBA da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), Tharcisio Bierrenbach de Souza Santos, "punir a bolsa é tolice e não vai resolver o problema" da excessiva valorização do real e consequente prejuízo às exportações do País.

COLABOROU LEANDRO MODÉ