Título: Plano da Vale é bem recebido por mercado
Autor: Ciarelli, Mônica
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/10/2009, Economia, p. B11
Investimentos priorizam mineração e apenas 3% vão para siderurgia
A decisão da Vale de destinar menos de 3% do orçamento de US$ 12,9 bilhões previsto para 2010 para projetos de siderurgia foi bem vista pelo mercado financeiro. O fato de a companhia anunciar um orçamento total mais robusto para o ano que vem também foi interpretado como um sinal de confiança na recuperação da demanda mundial por insumos básicos.
O consenso entre os analistas é que será positivo para os papéis da Vale o plano de priorizar o crescimento orgânico e focar em projetos de mineração, carro-chefe da empresa, nesse momento de maior pressão política. Do total a ser aplicado em 2010, 30% estão previstos para o segmento de minério de ferro e 32% serão destinados a projetos em cobre e níquel.
As ações preferenciais (PNA) da Vale fecharam ontem com queda de 2,17%, desempenho melhor que o do Ibovespa, que recuou 2,88%. Pesaram sobre as ações a própria liquidez e a declaração do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de que o governo pode taxar o setor de mineração.
O analista do Itaú Securities Marcos Assumpção lembra que as pressões do governo representaram "mais barulho do que impacto" sobre o plano de investimento da mineradora. Em relatório, ele disse que a estratégia da Vale na siderurgia não mudou: fazer aportes temporários e manter participações menores de 30%.
Para Pedro Galdi, da SLW Corretora, a decisão da empresa de não sucumbir à tentação de anunciar um orçamento muito alto para agradar ao governo dá uma maior tranquilidade ao acionista. Segundo ele, apesar de US$ 12,9 bilhões ser um número forte, a cifra está abaixo dos US$ 14,2 bilhões previstos inicialmente para este ano.
Em maio, por causa do agravamento da crise internacional, a Vale decidiu cortar seu orçamento em US$ 5 bilhões, que passou para US$ 9 bilhões.
"O orçamento veio dentro do esperado. Entendemos esse aumento do gasto de capital como positivo, uma vez que reflete uma perspectiva otimista da Vale na procura mundial de metais", diz em relatório o analista do Itaú.
Os números anunciados pela Vale ontem também não surpreenderam o analista Edmo Chagas, do BTG Pactual. Ele disse que a maioria dos planos da companhia incluídos no orçamento de 2010 eram conhecidos pelo mercado. O analista ressaltou que a maioria dos projetos da Vale teve seu cronograma adiado em um ano, por causa do menor desembolso de recursos este ano e também por atrasos nas construções motivados por vários fatores, entre eles o atraso na obtenção de licenças ambientais.
Já a Brascan Corretora adotou uma atitude mais cautelosa, ao alertar para o crescente risco político relacionado às operações. Segundo o analista Rodrigo Ferraz, essa pressão pode levar a empresa a ser mais conservadora na hora de fazer demissões, corte de custos e de investimentos.