Título: FT cita real e Garota de Ipanema
Autor: Graner, Fabio ; Abreu, Beatriz
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2009, Economia, p. B3

Jornal diz que falta à moeda o suingue da musa de Tom e Vinicius

Em editorial publicado ontem, o jornal britânico Financial Times apoia a decisão do governo brasileiro de taxar em 2% a entrada de capital estrangeiro no mercado financeiro, afirmando que o País está sendo "sábio" ao tentar evitar uma bolha especulativa "antes que seja tarde demais".

"Diferentemente da Garota de Ipanema (música clássica da Bossa Nova composta por Vinicius de Moraes e Tom Jobim), o suingue e o balanço do real são bem menos bacanas e delicados", diz o editorial.

O editorial observa que, "cada vez mais, o capital entra no Brasil por meio das carteiras de investimento em vez de investimento direto externo".

No artigo "Atração fatal", o jornal avalia que "a modesta taxa sobre entrada de capital do Brasil é uma política sábia", argumentando que o fluxo excessivo de capital para o mercado pode trazer mais estragos que benefícios ao País. "A paixão dos investidores impulsionou a moeda em 54,5% - até o governo dizer "chega" e impor uma taxa de 2% sobre a entrada de capital. Embora investidores ofendidos tenham deixado o preço das ações e do real cair, foi uma boa escolha", diz o texto.

"Enquanto a média de investimento externo direto (IED) em agosto, de US$ 1,6 bilhão, foi menos da metade de um ano antes, os fluxos para as carteiras de investimento mais que duplicaram, chegando a US$ 5,2 bilhões", cita.

"Estão colocados os ingredientes para uma clássica bolha de ativos de mercado emergente. O iminente status do Brasil como potência exportadora de petróleo aumenta a pressão."

Na avaliação do FT, "o governo é sábio ao se preocupar antes que seja tarde demais". "Nosso sistema monetário global, frágil e febril, deixa os países emergentes com menos opções para conter as bolhas, todas piores do que esta."

Para o FT, "o Brasil tem elaborado suas políticas de maneira sensata". "A taxa é modesta. Não se aplica ao investimento direto, menos propenso às bolhas de ativos. Mais importante, ela trata o investidor honestamente, taxando-os na ida em vez de no momento em que eles tentam reaver seu dinheiro, como fez a Malásia há uma década. Agora o governo deve tranquilizar investidores, certificando-se de que eles entendem o raciocínio."

Entretanto, o jornal avalia que a posição do governo ao tentar justificar a taxa de 2%, alegando controle do câmbio, é "começar as coisas pelo lado errado".

"A valorização do real é sintoma da charada do Brasil; a causa subjacente são os fluxos de capitais que há anos aumentam de intensidade e foram interrompidos pela crise financeira."

Concluindo o editorial, o FT avalia que "um Brasil bem-sucedido terá de viver com um real mais forte". "A taxa não altera esse fato, mas ajuda a manter a tarifa sob controle."