Título: IOF no capital externo afeta a dívida pública
Autor: Fernandes, Adriana ; Veríssimo, Renata
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/10/2009, Economia, p. B5

Ao espantar estrangeiros, imposto atrapalha plano do Tesouro de alongar prazos dos títulos

A taxação do capital externo com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) atingiu em cheio a estratégia de alongamento dos prazos de vencimento dos títulos do Tesouro Nacional e ocorreu no momento em que a participação de estrangeiros no total da dívida mobiliária interna bateu recorde.

Depois de ter despencado com o agravamento da crise, a parcela dos títulos nas mãos dos estrangeiros subiu para 7,15% do estoque de R$ 1,38 trilhão da dívida em setembro.

O apetite dos estrangeiros começou a aumentar em março, depois que a economia brasileira deu sinais de resistência à crise, com a retomada do crescimento econômico. Na crise, muitos investidores se desfizeram dos papéis do Tesouro para cobrir perdas lá fora, o que levou a participação de estrangeiros a cair rapidamente de 7% para 5,6%.

A venda de títulos para investidores estrangeiros é estratégica para o alongamento da dívida porque esses aplicadores preferem comprar papéis prefixados de longo prazo, que têm taxa definida no leilão e garantem rentabilidade por serem de maior risco. Quanto mais interesse desses investidores, maior é a demanda e menor as taxas que o Tesouro tem de pagar para vender os papéis.

O coordenador-geral de Operações da Dívida Pública do Tesouro, Fernando Garrido, foi cauteloso ao comentar o efeito do IOF. Segundo ele, é muito cedo para avaliar o impacto da tributação na tendência de aumento gradual da participação de investidores estrangeiros.

Ele ponderou que o IOF tende a prejudicar os investidores que aplicam em ativos "com horizontes mais curtos". Os investidores que aplicam em títulos de longo prazo, segundo Garrido, são pouco afetados.

JUROS

A estratégia do Tesouro Nacional também está sendo comprometida pela expectativa do mercado de que o Banco Central vai elevar em breve a taxa de juros básica, a Selic. A previsão, acentuada depois da divulgação do relatório de inflação do fim de setembro, alimentou a alta de juros no mercado futuro. Como consequência, o mercado passou a pedir um prêmio maior nos leilões de títulos federais.

A resposta do Tesouro foi colocar um pé no freio na oferta de papéis prefixados nos meses de setembro, o que levou a um resgate maior de títulos e à redução do estoque da dívida.

De agosto para setembro, a dívida interna caiu de R$ 1,4 trilhão para R$ 1,38 trilhão. Garrido destacou que a estratégia do Tesouro, em momentos de maior volatilidade, é colocar um lote menor de papéis com prazos mais curtos para não sancionar taxas mais elevadas.

Ele disse que, em outubro, o Tesouro também está observando essa volatilidade e, por isso, reduziu o lote de prefixados. Os papéis mais atingidos são os prefixados de longo prazo.