Título: Irã adia resposta sobre pacto de Viena
Autor: Nyt; Ap ;Reuters
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2009, Internacional, p. A26

Teerã ganha tempo e diz que só decidirá na semana que vem sobre envio de urânio a terceiros países

Em mais uma manobra para manter o controle sobre seu programa nuclear sem perder o poder de barganha com o Ocidente, o Irã decidiu não assinar o acordo apresentado em Viena no prazo estipulado, que terminou ontem. O documento, proposto na quarta-feira por EUA, França e Rússia, prevê o envio de aproximadamente 75% (1.200 quilos) do urânio iraniano para ser enriquecido na Rússia, o que reduziria o risco de o material ser usado para produzir armas atômicas pelo regime dos aiatolás.

A resposta do Irã repetiu o padrão ambíguo de ocasiões anteriores. No início do dia, a televisão iraniana veiculou a informação de que Teerã é que esperava por uma resposta do Ocidente. Sem mencionar o acordo de Viena, a emissora estatal PressTV limitou-se a dizer que o regime cobrava uma decisão internacional para uma proposta apresentada por Teerã antes do encontro de Viena. De acordo com esta proposta, o Irã compraria urânio enriquecido a 20% do exterior, em vez de enviar seu próprio urânio - enriquecido a apenas 3,5% -, para ser processado na Rússia. Até então, não havia informação oficial sobre se o governo do presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad tinha rejeitado definitivamente os termos do pacto de Viena.

Mais tarde, a mesma emissora transmitiu a declaração de Ali Asghar Soltanieh, represente iraniano na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) anunciando a decisão de protelar a resposta sobre o acordo de Viena. "Daremos nossa resposta ao senhor Mohamed ElBaradei (chefe da AEIA) na semana que vem", limitou-se a dizer Soltanieh, numa tentativa de ganhar tempo sem romper os canais de diálogo com o Ocidente.

Otimista, ElBaradei declarou em Viena ter recebido a informação de que o Irã "continua estudando a proposta detalhadamente e sob uma ótica favorável, mas que necessita do prazo até meados da próxima semana para responder".

REVÉS

A falta de uma resposta clara de Ahmadinejad ameaça a estratégia do presidente americano, Barack Obama, de oferecer dialogo aos países hostis aos EUA.

Uma recusa de Teerã em aceitar os termos do acordo também daria novo fôlego aos supostos planos de Israel de atacar as instalações nucleares iranianas que estariam sendo usadas para produzir armas atômicas.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas já aprovou três sanções contra o Irã pela recusa do regime em suspender suas operações de enriquecimento de urânio. Mas os EUA enfrentam sérias dificuldades em convencer a Rússia e a China a irem além na adoção de novas sanções contra Teerã.

Serviços de inteligência americana dizem que, no ritmo atual, Ahmadinejad poderia desenvolver a capacidade total de produzir armas atômicas dentro dos próximos cinco anos.