Título: Déficit do País nas transações com o exterior cresce 181% em setembro
Autor: Nakagawa, Fernando ; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/10/2009, Economia, p. B4

Avanço das importações, de 16,4%, e o déficit da conta turismo, que saltou 41,7%, estão entre as causas da alta

Um ano após o agravamento da crise financeira nos Estados Unidos, que precipitou o mundo na recessão, as contas externas brasileiras voltam a ter resultado condizente com o crescimento da economia. O principal sinal vem do rápido aumento das despesas no exterior. Com o aquecimento da atividade econômica, as importações avançaram 16,4% em setembro, na comparação com agosto, e o déficit da conta de turismo saltou 41,7%.

Movimentos desse tipo fizeram a conta corrente - que registra todas as operações de comércio e serviços do Brasil com o exterior - acumular déficit de US$ 2,31 bilhões no mês passado, valor 181% maior que o de agosto.

Dados apresentados ontem pelo Banco Central mostram que o balanço de pagamentos já trilha o rumo observado até agosto de 2008, antes de a crise colocar a economia em marcha lenta por um bom tempo.

Como exemplo, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, citou o crescente volume de importações deflagrado pela demanda interna, o que aumenta a transferência de dólares a outros países para pagar mercadorias e transporte ao Brasil.

Em setembro, o superávit da balança comercial caiu 56% na comparação com agosto, em decorrência da maior importação de bens, atingindo US$ 1,329 bilhão. As despesas com transporte cresceram 39%, para US$ 784 milhões.

"A tendência é termos déficits maiores porque a compra de bens do exterior deve crescer ainda mais em 2010 e, com o esperado aquecimento do mercado interno, empresas multinacionais devem ter lucros maiores no Brasil, o que deve aumentar a remessa de lucros e dividendos", diz a economista Fernanda Feil, da Rosenberg & Associados.

A economista observa que a perspectiva de acumular déficits maiores não preocupa porque o déficit na conta corrente tem sido completamente coberto pelo ingresso de Investimento Estrangeiro Direto (IED), que são recursos destinados à produção. A avaliação é idêntica à do chefe do Departamento Econômico do BC.

De janeiro a setembro, a conta corrente teve déficit de US$ 11,876 bilhões. No mesmo período, empresas multinacionais enviaram US$ 17,691 bilhões para construção de fábricas, ampliação de unidades e compra de empresas no Brasil, entre outros investimentos.

Em setembro, o ingresso de IED somou US$ 1,816 bilhão e Altamir Lopes espera outro US$ 1,7 bilhão em outubro. Desse total, US$ 1,3 bilhão já ingressou no País até ontem.

"A despeito da grave crise do ano passado, o fluxo de investimentos produtivos nunca foi interrompido para o Brasil. Pelo contrário, o IED apresenta um número razoável, se compararmos com o que aconteceu em outros países", diz Fernanda.

TOMBO

Apesar do otimismo, o ingresso de IED ainda não se recuperou do tombo causado pela crise financeira global. Em nove meses, de janeiro a setembro, a entrada de investimento estrangeiro direto foi 42,6% menor que a verificada em igual período do ano passado.

Em 2009, os setores ligados à indústria automobilística lideram a atração de recursos. Segundo o Banco Central, 15,5% do dinheiro ingressou no País para investimentos na indústria metalúrgica e 10,1% para as montadoras. Outro segmento com participação relevante é o de serviços financeiros, como bancos, que responderam por 8,5% do IED que chegou ao País entre janeiro e setembro.