Título: Estado dá garantias sociais e interfere na economia
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/10/2009, Internacional, p. A8

Máquina emprega 20% da população economicamente ativa; tema privatização passou ao largo na campanha

O Uruguai, uma das menores nações da América Latina, sempre se caracterizou como um país de vanguarda e ilha de estabilidade na região. Em 1907 aprovou a lei de divórcio, sete décadas antes de todos os vizinhos. Em 1915, implementou a jornada de oito horas de trabalho. Há dois anos, foi o primeiro na região a contar com uma lei de união civil entre pessoas do mesmo sexo e, meses atrás, levantou as restrições à entrada de homossexuais nas Forças Armadas.

Com apenas 4,2 milhões de habitantes, o Uruguai ocupa o topo latino-americano do ranking do "Índice de Democracia", elaborado pela revista britânica The Economist, e possui o menor índice de percepção da corrupção da América Latina, segundo o relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Tem ainda o mais elevado índice de liberdade de imprensa na região, de acordo com a ONG Jornalistas sem Fronteiras.

PARAÍSO ESTATAL

Apesar de ser reconhecido como a "Suíça da América do Sul" - seus bancos asseguram sigilo e têm baixas taxas fiscais, atraindo investidores de países vizinhos -, o Uruguai também é o paraíso das empresas estatais. A maior delas é a ANCAP, responsável pela distribuição de gasolina, gás e energia elétrica no país, além de cimento.

A máquina estatal emprega 230 mil funcionários públicos (em uma população economicamente ativa de 1,2 milhão de pessoas), o que torna o tema privatização sensível aos uruguaios.

Durante a campanha, os três principais candidatos preferiram dar mais importância à revogação da lei de anistia aos militares (votada num plebiscito paralelo à eleição) do que à reforma do Estado.

O país é mais aberto a temas sociais. Nos próximos meses o Congresso deve votar uma lei que permitiria a eutanásia.O Congresso chegou a aprovar uma lei que prevê a legalização do aborto. No entanto, ela foi vetada pelo presidente Tabaré Vázquez, que alegou questões éticas médicas - Tabaré e é um dos mais renomados oncologistas do país.

Caso José Mujica,o candidato da governista Frente Ampla, seja eleito, a legalização do aborto pode voltar ao debate.

O tema não causa a mesma comoção do que nos vizinhos porque o Uruguai é considerado o país mais laico das Américas. O juramento de posse do presidente exclui qualquer referência a Deus, já que ele jura por sua honra pessoal e à Constituição. Não há crucifixos em repartições ou hospitais públicos.

Os católicos "formais"- a maioria não é praticante - somam apenas 47,1% da população. Outros 40,4% não possuem religião alguma. Ao redor de 11% dos uruguaios são protestantes.