Título: O recuo do desemprego
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2009, Notas e informações, p. A3

A Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, mostrou queda de 0,4 ponto porcentual - de 8,1%, em agosto, para 7,7%, em setembro - do índice de desemprego das seis principais regiões metropolitanas. Esse dado indica que a economia está retomando o ritmo de atividade de 2008.

A taxa de desocupação recuou a patamar idêntico ao de um ano atrás - antes da crise, portanto. E é a menor taxa do ano, inferior às projeções da maioria das consultorias privadas (que variavam entre 7,8% e 8,2%). Segundo o IBGE, 76 mil pessoas saíram das estatísticas de desemprego. Mas a qualidade do emprego piorou.

Nos últimos dois anos, a taxa mensal de desemprego chegou ao mínimo de 6,8%, em dezembro de 2008, quando a desocupação alcança o patamar mais baixo, e ao máximo de 9%, em março de 2009.

Há, nas seis regiões metropolitanas pesquisadas - São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Recife -, uma população ocupada de 21,5 milhões de trabalhadores. Esse número ficou estável em comparação com o de agosto e com o de setembro de 2008, indicando que muitas pessoas que chegaram à idade de trabalhar ainda não estão procurando emprego e que outras saíram do mercado de trabalho, certamente por dificuldade de arrumar emprego.

Além disso, do total dos empregados, 54,9% tinham carteira assinada, contra 55,7% em janeiro. É o que explica a cautela com que o corpo técnico do IBGE tratou os dados do mês.

Piorou, segundo Cimar Azeredo, gerente da pesquisa do IBGE, a qualidade do emprego. "A queda da taxa de desemprego não mostra uma recuperação do mercado de trabalho, mas um movimento sazonal, já que a taxa sempre recua nessa época do ano", acrescentou. "Para haver uma recuperação, o recuo na taxa e o aumento no número de ocupados teriam de ser mais expressivos."

Tudo indica que os piores resultados do emprego ainda estejam nos setores que mais dependem da exportação e foram afetados pela valorização do real, como a agropecuária. Ademais, a maior parte das vagas abertas teve por origem o setor de serviços, que paga menos do que a indústria.

Em avaliação semelhante, a consultoria privada LCA notou que "era esperada uma taxa, ao menos, nos níveis observados em agosto, que seria interpretada como mais um passo na redução do desalento, na esteira da recuperação da atividade econômica". No último trimestre, segundo a consultoria, prevê-se que mais pessoas procurem emprego. Como resultado, a taxa de desocupação está projetada em 7,1%, em dezembro, superior em 0,3 ponto porcentual à do mesmo mês do ano passado. Com ajuste sazonal, o desemprego foi de 8% em dezembro do ano passado e é estimado em 8,3% em dezembro deste ano.

Um dos pontos mais positivos da PME de setembro foi o aumento real dos rendimentos médios, de 0,6% em relação a agosto e de 1,9% em relação a setembro de 2008. Os destaques ficaram com Recife e Porto Alegre, onde o crescimento real foi de 5,2% em relação a setembro de 2008, e Salvador, com alta de 2,7%, mais que o dobro do aumento registrado em São Paulo (1,3%) e muito superior ao do Rio (1,6%) e ao de Belo Horizonte (0,6%). Nesta capital, apenas o emprego na construção civil mostrou uma forte alta no ano. Em Salvador, destacou-se o crescimento do emprego no item educação, saúde, serviços sociais, administração pública, defesa e seguridade social.

Os empregados com carteira assinada do setor privado puxaram a recuperação dos rendimentos, com aumento real de 2%, no mês, e de 1,6%, em um ano. Seguiram-se os militares ou funcionários públicos estatutários, com alta de vencimentos, respectivamente, de 1,2%, no mês e de 2,1%, no ano. Já os empregados sem carteira assinada não estão conseguindo preservar sua renda real, que caiu 2,2%, no mês (mas ainda sobe 5% no ano).

O aumento do emprego favorece a recuperação da economia, pois o crescimento dos rendimentos provenientes dos empregos formais permite a contratação de empréstimos, alimentando, sobretudo, o comércio e o segmento imobiliário, que continua a mostrar demanda firme.