Título: PMDB e PT tentam derrubar o apoio de Quércia a Serra
Autor: Duailibi, Julia
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2009, Nacional, p. A9

Plano é minar influência do cacique e virar jogo em SP para o lado petista

Após o anúncio da semana passada, em que PMDB e PT firmaram entendimento em torno da aliança nacional para 2010, entusiastas da coligação começaram a colocar em prática estratégia para desamarrar o apoio do ex-governador Orestes Quércia ao projeto tucano. A ideia é minar a influência do cacique nas hostes peemedebistas em São Paulo, alinhando a sigla ao plano nacional petista.

Atiçado pelo PT, e com cargos no governo federal, principalmente na Funasa e na Conab, o PMDB paulista ligado ao presidente da Câmara, Michel Temer (SP), cotado para assumir a vaga de vice na chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), trabalha para virar o placar em São Paulo até junho de 2010, mês da convenção que homologa a aliança nacional. Hoje, sob o comando de Quércia, a cúpula paulista defende o apoio aos candidatos do PSDB ao governo do Estado e à Presidência, cuja escolha se dá entre os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG).

A ação visa causar constrangimento ao grupo quercista com a tese de candidatura própria para governador, escorada no lançamento de chapa alternativa à da atual gestão - em dezembro 1.140 delegados definirão a nova cúpula no Estado; hoje serão eleitos diretórios municipais. A atual direção controla 60% do partido em São Paulo.

A estratégia foca cem delegados "independentes", os que tradicionalmente não têm grupo definido, e passa pela cooptação de insatisfeitos com o emagrecimento do PMDB paulista. Maior bancada na Câmara, a legenda tem apenas dois deputados federais por São Paulo, e a perspectiva para 2010 não é animadora. "O PMDB é hoje um partido forte no Brasil e fraco em São Paulo. Se não participa de um projeto nacional, some", disse o prefeito de Rio Claro, Du Altimari, ligado a Temer. Para ele, no entanto, a disputa não se dará no diretório estadual, mas junto aos 26 delegados que representarão São Paulo na convenção nacional.

Há 20 dias, Quércia se reuniu com o presidente do PT paulista, Edinho Silva, para selar um acordo de boa convivência entre os dois partidos. No encontro, o ex-governador disse que a sua decisão de apoiar o PSDB era irreversível - ele terá a indicação para disputar o Senado -, mas que não se moveria contra peemedebistas simpáticos ao PT, como no caso do diretório do município de São Carlos.

Temer e Quércia equilibram-se numa espécie de acordo tácito. O presidente da Câmara não interfere nas questões do diretório estadual, presidido por Quércia. E o ex-governador, por sua vez, não questiona decisões tomadas pelo nacional, sob influência de Temer. Mas há quase um mês Quércia liderou caravana a Brasília para criticar a aliança PMDB-PT. Temer ficou furioso. Na semana passada, após o jantar com o presidente Lula e Dilma para selar a aliança, o troco. Reuniu-se com o deputado Francisco Rossi e estimulou sua candidatura a governador - projeto, no entanto, considerado natimorto. "Tenho o apoio de Temer", afirmou Rossi, cuja candidatura surgiu em reunião da bancada dos deputados federais do PMDB.

A ala governista do partido garantiu ao PT que, assim que Temer for anunciado vice de Dilma, conseguirá avançar em cima dos delegados controlados por Quércia. "Se Temer for candidato a vice-presidente, o PMDB em São Paulo vai apoiá-lo. Pode até tomar outra direção na questão estadual. Mas na convenção nacional, ter a vice e não estar na chapa, gera constrangimento", disse o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

Na disputa pelo diretório paulista em 2006, o deputado estadual Jorge Caruso desafiou Quércia e teve 40% dos votos - mesmo com Temer abandonando a chapa e aliando-se a Quércia na hora H. Com base nesse resultado, o grupo pró-PT avalia que em 2010 será fácil dobrar o partido, principalmente com Temer na chapa de Dilma.

Apesar da queda de braço, a avaliação no PMDB é que os dois caciques puxam a corda, mas não rompem. Quercistas apoiariam tucanos em São Paulo, enquanto a ala de Temer levaria a sigla para aderir ao projeto nacional do PT. "Não há a menor possibilidade de confronto em São Paulo", diz Caruso.