Título: Exportador mantém estratégia contra real forte
Autor: Landim, Raquel
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/10/2009, Economia, p. B4

Apesar de não esperar alta do dólar, alguns deixam recursos lá fora; outros compram derivativos

Os exportadores estão utilizando duas "armas" financeiras para reduzir a perda de rentabilidade provocada pela valorização do real: deixam seus dólares no exterior ou compram derivativos no mercado local.

O início da incidência de 2% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) não deve mudar as estratégias, pois o mercado e os exportadores não acreditam que a medida vai alterar a tendência de queda do dólar.

As saídas encontradas pelos exportadores estão em direções opostas. No primeiro caso, as empresas deixam seu dinheiro no exterior, em dólares.

Estimativas informais do mercado apontam que, no acumulado de 12 meses até setembro, os exportadores possuem US$ 16 bilhões lá fora. Essa é a diferença entre as exportações realizadas e o câmbio efetivamente contratado.

"É um represamento grande", disse o diretor da corretora NGO Câmbio, Sidnei Nehme. Esses recursos são uma garantia extra para o mercado de que o real vai seguir se valorizando, pois tem muito dinheiro ainda para entrar no País, e neutralizam os efeitos do IOF.

Analistas do mercado e fontes do governo, no entanto, não acreditam em um efeito brusco para o câmbio, porque o dinheiro dos exportadores deve entrar no País aos poucos, e o Banco Central (BC) segue comprando dólares no mercado.

Segundo José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), as empresas algumas vezes optam por deixar seus recursos no exterior para pagar insumos importados, ou são multinacionais que precisam fazer remessas de lucros para o exterior.

Já as companhias que deixam seus dólares no exterior esperando que a moeda americana se valorize em relação ao real podem estar fazendo mau negócio. Por exemplo, há companhias que deixaram de internalizar os seus recursos quando o dólar estava a R$ 1,90 e agora a moeda baixou para R$ 1,70.

A alternativa oposta é fazer hedge e ficar "vendido" em dólar, ou seja, garantir um preço em reais para a sua mercadoria. As empresas estão retomando lentamente as operações com derivativos mais ousados, após o trauma vivido na época da crise.

De acordo com um consultor do mercado, os bancos voltaram a oferecer opções de hedge com derivativo embutido, mas o risco é bem inferior àquele que provocou problemas financeiros significativos para Sadia, Aracruz ou Votorantim.

"Depois da crise, as empresas tinham orgulho de dizer que não fazem derivativos. Agora isso começou a mudar", disse Marcelo Maziero, diretor de derivativos do Itaú Unibanco.

Ele afirmou que, a partir do segundo semestre, as empresas começaram a procurar os bancos para derivativos, pois perceberam que a valorização do real veio para ficar e está cada vez mais difícil encaixar orçamentos que fizeram para 2010 com o dólar entre R$ 2 e R$ 2,10.

Segundo uma fonte do governo federal, os derivativos voltaram, mas não é um movimento coletivo, que represente um risco sistêmico. Os dados da Cetip - empresa que administra operações no chamado mercado de balcão organizado - ainda não apontam alta significativa nas operações de derivativos.

Em setembro, foram negociados US$ 211,8 bilhões em operações de derivativos na Cetip. O volume é superior aos R$ 200,5 bilhões de agosto e aos R$ 194,2 bilhões de julho, mas ainda está muito abaixo dos R$ 301,3 bilhões de setembro de 2009.

Segundo Eduardo Collor, da Ativa Corretora, as operações de derivativos tendem a voltar em cenários como o atual, em que não há sinais de mudança de tendência do câmbio, mas a crise ainda é recente e as empresas seguem traumatizadas.