Título: PT ganha tempo para tentar barrar ruralistas
Autor: Monteiro, Tânia ; Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2009, Nacional, p. A4

Em contrapartida, para não melindrar base, não deverá escolher deputados ligados diretamente aos sem-terra

Na tentativa de adiar a instalação da CPI do MST, a bancada petista na Câmara só pretende indicar os integrantes da comissão na semana que vem. Com essa estratégia, o PT espera ganhar tempo para convencer os aliados a não escolher ruralistas radicais para integrar a CPI. E, para não melindrar os demais partidos da base, o PT deu sinais de que não deverá indicar deputados vinculados diretamente ao Movimento dos Sem-Terra.

Ontem, o deputado Dr. Rosinha (PT-PR), com fortes ligações com o MST e que vinha funcionando como uma espécie de porta-voz do partido, foi afastado das negociações em torno da CPI. "Não sei o motivo de terem me tirado das negociações", afirmou Dr.Rosinha. Em seu lugar, o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP), pôs os deputados Assis do Couto (PR) e Anselmo de Jesus (RO), ambos ligados à agricultura familiar, sem vinculações com os sem-terra.

Ficou marcada para a próxima terça-feira a reunião da bancada do PT na Câmara para definir os parlamentares petistas que vão integrar a CPI do MST. "Agora no fim do ano vão embolar muitas questões aqui no Congresso, como a votação do Orçamento do ano que vem e o marco regulatório do pré-sal. O jeito é tentar adiar a instalação da CPI", argumentou Dr. Rosinha. Ele reconheceu, no entanto, que dificilmente o PT sozinho conseguirá jogar para o ano que vem o início dos trabalhos da comissão. "Não temos força para isso", disse.

OPOSIÇÃO

Segundo o líder do PTB no Senado, Gim Argello (DF), os governistas não têm pressa em instalar a comissão. "A cada dia sua agonia", resumiu Argello, ao observar que a preocupação neste momento é com a aprovação do ingresso da Venezuela no Mercosul. "Em ano pré-eleitoral todo mundo está com a cabeça nos Estados. Essa CPI não vai ter o ímpeto que teria há dois anos", admitiu o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN).

O DEM foi o primeiro partido a fazer as indicações para comissão de inquérito. A legenda optou por escolher parlamentares ligados à agricultura. Como titulares, Agripino Maia indicou os senadores Gilberto Goellner (MT) e Kátia Abreu (TO), que também é presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Como suplente, escolheu Efraim Moraes (PB).

Na Câmara, o líder do partido, Ronaldo Caiado (GO), indicou dois notórios ruralistas: Onyx Lorenzoni (RS) e Abelardo Lupion (PR). Na suplência ficaram Vic Pires Franco (PA) e Jorginho Maluly (SP). Já o PTB do senador Gim Argello escolheu João Vicente Claudino (PI), como titular, e Sérgio Zambiase (RS), como suplente.

A grande expectativa do governo é em torno dos nomes que serão indicados pelo PMDB para integrar a CPI do MST. O líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), admitiu que poderá indicar ruralistas, mas disse que a comissão não poderá ser transformada em um "palanque eleitoral".

Com direito a 3 das 18 vagas de titular da CPI na Câmara, o PMDB deverá ter pelo menos um ruralista do partido na comissão. Ao todo, a CPI tem 36 vagas titulares e outras 36 de suplentes.