Título: O Senado deve aceitar a Venezuela no bloco?
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/10/2009, Nacional, p. A7

Sim:Antonio Carlos Valadares

A história nos mostra que governantes passam, enquanto países e povos permanecem. Polêmicas em torno de questões ideológicas não devem barrar o progresso e o fortalecimento das nações. A América do Sul precisa de um bloco comercial cada vez mais forte, para fazer frente ao desafio de transformar países em desenvolvimento em países desenvolvidos.

É sabido que os grandes conglomerados comerciais de países ricos agem com protecionismo e impõem taxas abusivas às importações de produtos oriundos de economias subdesenvolvidas. Para contrabalançar essa tendência, urge que os países sul-americanos estejam unidos.

Discordâncias em torno da postura política de algum mandatário não podem servir de caldo de cultura para barrar a entrada em bloco econômico de nações tradicionalmente amigas.

Na última década, as exportações brasileiras para a Venezuela aumentaram mais de 850%, pois passaram de US$ 536 milhões, em 1999, para US$ 5 bilhões em 2008.

O saldo a favor do Brasil em 2008 atingiu o montante de US$ 4,6 bilhões, o equivalente a 2,5 vezes o superávit obtido nas relações com os EUA.

O comércio mundial não se mantém atrelado a questões ideológicas, sejam elas políticas ou religiosas. Os países que fizeram isso fracassaram e submeteram seus povos a privações.

Considero prudente - como já decidiram Argentina e Uruguai - que o Brasil também referende o protocolo de integração da Venezuela ao Mercosul. A exclusão seria um retrocesso nas relações multilaterais entre os países do nosso continente, podendo estimular o surgimento de um outro bloco comercial divisionista, fragilizando a posição do Mercosul.

Não estaríamos prejudicando um governo, mas rejeitando um povo que, como nós, deseja e merece o desenvolvimento. Como democrata, quero deixar bem claro que não tenho nenhuma simpatia pelos métodos utilizados pelo senhor Hugo Chávez, que, para se manter no poder, utiliza-se de estratégias políticas discricionárias.

* Senador pelo PSB-SE e líder do partido no Senado

Não: Eduardo Azeredo

Há seis meses, o Senado discute a possibilidade de ingresso da Venezuela no Mercosul. A Comissão de Relações Exteriores da Casa realizou nada menos que seis audiências públicas sobre o tema. Com base no que foi apurado nessas discussões e também nos acontecimentos noticiados pela mídia internacional, o relator do protocolo de adesão, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), apresentou voto contrário à entrada da Venezuela no bloco. Frisou, no entanto, ser contrário à adesão neste momento em que o país, além de não cumprir alguns quesitos técnicos, não se enquadra na cláusula democrática adotada pelo bloco.

Minha posição é de concordância com o senador Jereissati. Sob o ponto de vista técnico, a Venezuela ainda não resolveu questões como o nivelamento das tarifas de exportação. E sob o ponto de vista da democracia, os fatos falam por si. O presidente Hugo Chávez determinou o fechamento de emissoras de rádio e TV, promoveu nacionalizações arbitrárias e chega a controlar a Justiça venezuelana. Segundo informações do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, há ainda presos políticos e desrespeito à legislação do país.

É claro, não se trata de uma opinião sumariamente contrária à Venezuela e aos venezuelanos. Trata-se de uma preocupação com os rumos daquele país sob o governo chavista e, sobretudo, da preocupação com o Mercosul sob interferência do coronel bolivariano. Vale lembrar que, com o sistema de presidência rotativa, Hugo Chávez chegará a comandar o bloco. E não é preciso esforço para imaginar o uso político que ele fará deste cargo.

É inegável a importância econômica da Venezuela para o Brasil, tendo em vista que o comércio entre os dois países tem se ampliado. Mas a questão democrática não deve ser esquecida. Usando o antiquado manto do bolivarianismo, Chávez é uma ameaça à democracia e à estabilidade do continente sul-americano. O coronel-presidente é um fator desagregador que, infelizmente, neste momento, não pode ser dissociado da Venezuela.

É imprescindível o fortalecimento do Mercosul, com a intensificação das relações comerciais e diplomáticas entre os atuais membros. Mas, neste momento, a figura populista de Chávez representa instabilidade e insegurança.

* Senador pelo PSDB-MG e presidente da Comissão de Relações Exteriores da Casa