Título: A rotatividade é comum. Uma influencia a outra, diz conselheira
Autor: Machado, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/11/2009, Metropole, p. C3

Nenhuma das cidades atingidas tem política específica

Ainda não são 18 horas. Com pés descalços, a garota corre para atravessar a rodovia, em direção a um posto de gasolina no km 500 da Régis Bittencourt, no município de Cajati, Vale do Ribeira. Ali, ela encosta em um muro e aguarda - até ser chamada, com um aceno, por um caminhoneiro, para que suba na cabine do veículo, estacionado no posto. A menina, R., conhecida do Conselho Tutelar da cidade, tem 16 anos e é vista nas estradas desde os 13. Na cabine do caminhão, ela fica 50 minutos. Quando sai, ainda de dia, outras duas garotas, de 15 e 16 anos, se aproximam do mesmo ponto, para oferecer o mesmo serviço.

R., L. e E. são três das 75 menores atendidas pelo Conselho Tutelar de Cajati, envolvidas em denúncias de exploração sexual na cidade. Somente entre janeiro e agosto, houve 443 atendimentos referentes a exploração ou violência sexual no município. "Não conseguimos coibir. Levamos as meninas às famílias e explicamos o problema, mas logo elas voltam às estradas", diz a coordenadora do Conselho Tutelar da cidade, Andréa Pontes.

Cajati, de 29 mil habitantes, é um dos casos preocupantes do Vale, com quatro pontos vulneráveis. Num deles, um ponto de ônibus na beira da estrada, costuma ficar J., de 16 anos, cuja irmã, de 12, também já foi vista no mesmo lugar. "A rotatividade é comum, uma influencia a outra. É frustrante", diz Andréa.

Em 116 km de vias federais no Vale, há 25 pontos vulneráveis a exploração sexual infantil, um a cada 4,6 km. Jacupiranga, Registro e Juquiá são outras cidades onde há o problema. "A dificuldade é dar flagrante, porque as meninas pegam carona e depois param em postos de gasolina. Não há como flagrar o que fizeram no caminho", diz o inspetor Juarez Cardoso, da PRF na área. "Quando intensificamos as operações, elas migram para outros pontos."

Em nenhuma das cidades mais atingidas há política de combate a exploração sexual - o enfrentamento é dos Conselhos Tutelares, com poucos conselheiros para muitos casos. "Sem ajuda das prefeituras, os conselhos não dão conta", diz o promotor Yuri Castiglione, responsável por operações na região. "Operações paliativas não trazem melhorias efetivas."