Título: Lula confirma que não levará meta numérica a Copenhague
Autor: Netto, Andrei ; Escobar, Herton
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/11/2009, Vida&, p. A16

Presidente condicionou fixação de número a acerto internacional para redução de emissões

O governo brasileiro não vai apresentar uma meta própria de redução de emissões de CO2 antes da 15ª Conferência do Clima (COP-15) das Nações Unidas, marcada para Copenhague, no mês que vem. Ontem, em visita oficial a Londres, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condicionou a fixação de números por parte do Brasil a um acerto internacional sobre metas únicas, de toda a comunidade internacional, para a redução de emissões de gases de efeito estufa, de captura de carbono e de "desaquecimento global".

Lula admitiu que o governo não baterá o martelo em torno de uma cifra, como os 40% de redução de emissões de CO2 defendidos pelo Ministério do Meio Ambiente. Questionado pelo Estado se o Brasil apresentaria uma meta própria - que em tese estimularia outros países a fazerem o mesmo -, o presidente lembrou que já assumiu o compromisso de reduzir o desmatamento da Amazônia em 80%. E respondeu: "Não. O Brasil leva os compromissos do Brasil. Nós vamos assumir um compromisso junto com a comunidade internacional."

Lula justificou sua decisão afirmando que o País não quer dizer ao mundo o que fazer. "O que nós não queremos é chegar com os nossos números e tentar impô-los à comunidade internacional. Nós queremos dizer: "Temos tais compromissos, vamos fazer tais coisas, desde a recuperação de terras degradadas, o zoneamento agroecológico, até a questão do desmatamento, do biodiesel", disse. Mesmo sem apresentar números, Lula criticou as metas propostas pela União Europeia. O bloco de 27 países costuma ser elogiado por organizações não governamentais por ter assumido, de forma unilateral, o objetivo de reduzir em 20% as emissões de CO2 até 2020, cifra que pode chegar a 30% em caso de acordo com a comunidade internacional. "Nós achamos que o número da União Europeia é insuficiente."

O presidente afirmou que foi exortado pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, com quem se reunira minutos antes, a telefonar para o presidente Barack Obama. "Ele pediu que eu entrasse em contato com o Obama. Eu vou tentar falar com o Obama, com o Hu Jintao até o dia 13", disse. "Até a semana que vem vou ligar para todos eles para ver se a gente constrói um número que seja factível, um número de compromisso de desaquecimento global." De sua parte, Lula pediu ao chefe de governo britânico que designe um representante de seu governo para manter "contato diário" com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, coordenadora do grupo interministerial do Brasil que trabalhará "até 13 ou 14 de novembro" na proposta que o País levará a Copenhague. "Não vai ter dois ministros falando coisas diferentes. Todos vão ter de falar a mesma língua."

REPERCUSSÃO

A ideia de reduzir o nível das emissões brasileiras de gases do efeito estufa em 40% até 2020 seria recebida como uma meta "ambiciosa" pela UE, segundo o negociador chefe do bloco na Convenção do Clima, Artur Runge-Metzger. Mas com uma condição: a de que a projeção de crescimento da economia - e, consequentemente, das emissões desses gases - seja realista. "Se essa projeção for exagerada, as reduções ficam superestimadas", disse Runge-Metzger ontem, em Barcelona.

O repórter Herton Escobar viajou a convite da COP-15