Título: Pacto é recebido com festa e desconfiança
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/11/2009, Internacional, p. A18

Manifestações pró-Zelaya voltaram às ruas, mas muitos hondurenhos não se entusiasmaram

O acordo alcançado entre o governo de facto de Honduras, presidido por Roberto Micheletti, e o presidente deposto do país, Manuel Zelaya, voltou a mobilizar a população de Tegucigalpa, que foi às ruas se manifestar a favor da volta de Zelaya à presidência. Muitos habitantes da capital, no entanto, demonstraram pouco entusiasmo ou até manifestaram opiniões contrárias ao regresso do presidente ao poder.

Em frente ao prédio do Congresso, que decidirá sobre o retorno do líder deposto ao poder, cerca de 500 mil manifestantes ligados a movimentos contrários ao golpe aplaudiram e gritaram palavras de ordem quando a delegação zelaysta entrou no local na sexta-feira.

Os partidários de Zelaya aproveitaram para enviar aos parlamentares suas mensagens. "Chega de adiamentos da volta do presidente ao seu lugar", dizia um deles.

"Temos confiança de que o Congresso vai restaurar Zelaya, porque é um acordo político", afirmou à France Presse Juan Barahona, dirigente do grupo Resistência Contra o Golpe.

Na concentração, embalada por músicas de protesto, havia vária bandeiras hondurenhas e também dos EUA, que até então só eram usadas nas manifestações para serem queimadas. Antes criticados pela falta de ação, diplomatas americanos foram os mediadores do acordo.

No entanto, fora do núcleo da resistência contra o golpe, as pessoas não se mostravam animadas com a conciliação. Muitos, como a vendedora de CDs piratas Erika Bonilla, de 21 anos, só estavam aliviados por a crise estar se aproximando do fim. "Ainda bem que resolveram o problema, porque o país está um caos", afirmou.

VOLTA

Sonia Pavón, outra vendedora ambulante, também se dizia satisfeita com o acordo e a possível volta de Zelaya ao poder "porque ele foi o único que aumentou o salário mínimo".

Já o vendedor de loteria Pablo Castro, de 66 anos, classificou o acerto apenas de "saudável", pois diz não gostar nem de Zelaya nem de Micheletti. "O que quero é viver em paz, sem tanto sangue."

Menos simpático ao líder deposto, José Noel Rodríguez, de 36 anos, professor da cidade rural de Paraíso, que enfrentou problemas quando o líder deposto cruzou a fronteira pela Nicarágua, quer mesmo é ver Zelaya "apresentar-se aos tribunais". "Micheletti tem de terminar o período na presidência porque foi colocado lá por todos os lados, por todos os partidos", afirmou.

O taxista José Adalberto Rodríguez, de 39 anos, mostrou-se convencido de que Zelaya não cumprirá sua palavra de apresentar-se à Justiça. "Ele não se preocupa com o bem-estar do povo, só com o dele."